Profundamente cristão, C.S.Lewis acreditava que o poder – qualquer forma de poder, dos governantes sobre os governados, dos pais sobre os filhos e até mesmo do homem sobre a natureza – só é legítimo quando exercido com humildade e sob a autoridade de Deus. Porque homens não são deuses. Homens erram.
Por isso, sempre segundo Lewis, as respostas para as questões políticas devem estar alicerçadas na prudência, na modéstia, no conhecimento e nas experiências compartilhadas e na vontade da maioria, não na opinião de um ou de poucos.
Porque os homens, isoladamente, são imperfeitos e podem ser perversos, e quanto mais poder detiverem mais imperfeitos e perversos tenderão a ser.
A democracia é, nesse sentido, a “nossa única defesa contra a crueldade do outro”. Ao compartilhar o poder entre muitos, cada um respeitando o seu quadrado, a democracia, por imperfeita que seja, é o melhor remédio contra os abusos de um ou de poucos: “Nenhum homem pode ser confiável se tiver poder ir sobre seus companheiros”, afirma o autor das "Crônicas de Nárnia".
Curiosamente, para Lewis a força da democracia não está na ideia de que a voz do povo é infalível. Ao contrário, é porque os indivíduos erram, inclusive coletivamente, que não se podem confiar as grandes decisões para apenas uma pessoa ou grupo. Quanto mais distribuído o poder, menor a probabilidade de se cometerem injustiças. É por isso que as democracias são superiores às ditaduras e aos regimes totalitários.
Em seu ensaio Cristianismo puro e simples, Lewis escreve:
“É possível ser democrata por dois motivos opostos. Você pode pensar que todos os homens são tão bons que merecem participar do governo, e tão sábios, que a comunidade necessita de seus conselhos. Em minha opinião, essa é a falsa e romântica doutrina da democracia. Por outro lado, você pode acreditar que os homens caídos são tão perversos, que nenhum deles pode receber poder desmedido sobre seus companheiros. Parece-me ser essa a verdadeira base da democracia.”
Já em Cartas de um diabo ao seu aprendiz, o escritor afirma:
“Todos, independentemente de partido, são homens falhos que inevitavelmente falharão. E até mesmo os que se escondem por trás da defesa da democracia podem estar usando a democracia como desculpa para fazer o mal”. [grifo meu]
Quando dotadas de poder e autoridade excessivos, pessoas assim podem se mostrar cruéis. Embriagadas de poder e vaidade e apoiadas exclusivamente em sua própria consciência distorcida e em convicções pessoais que de democráticas não têm nada, elas negam aos adversários "qualquer grão de bem ou verdade". Negam o direito à existência não apenas à crítica e à diferença de opinião, mas também à dúvida saudável e necessária em qualquer sociedade livre.
Por isso, segundo Lewis, as qualidades que devemos buscar nos governantes são “humanidade, integridade financeira, boa istração e trabalho duro”: “Políticos [e juízes, eu acrescentaria] com uma pretensão transcendental ou mesmo com um discurso fortemente ético são muito perigosos, pois estes traços são difíceis de diagnosticar e podem ser facilmente simulados”.
Para concluir, outra citação de C.S.Lewis:
“Eu sou um democrata porque acredito na Queda do homem. Eu penso que a maioria das pessoas é democrata pela razão oposta. Uma grande parte do entusiasmo democrático descende de ideias de pessoas como Rousseau, que acreditavam na democracia porque pensavam que a humanidade é tão sábia e boa que todos mereceriam participar do governo. (...)
"A verdadeira razão para a democracia é justamente o reverso. A humanidade é tão caída que a ninguém pode ser confiado poder incontido sobre seus companheiros. Aristóteles disse que algumas pessoas só prestavam para ser escravos. Não o contradigo. Porém, rejeito a escravidão porque não vejo nenhum homem que preste para ser senhor”.
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