Porém, chegando aos tempos modernos, o ser humano começou a ser confrontado em suas crenças e, se é que se pode usar essa expressão, o homem foi humilhado pelo menos três vezes. Primeiro, vem Copérnico (1473-1543): diz que é a Terra que gira em torno do Sol, retira nosso mundo do centro do universo e afirma que o Sol é o centro em torno do qual os planetas gravitam. Essa foi a primeira humilhação.
Na sequência, Charles Darwin (1809-1882) provoca alvoroço nos meios científicos e comoção entre os povos ao garantir que o ser humano tal como é não foi obra de Deus, mas apenas evolução de um ancestral do macaco. Para o antropólogo espanhol José Maria Bermúdez de Castro, o homem e o chimpanzé vêm do mesmo ancestral, do qual se separaram há coisa de 4 milhões a 7 milhões de anos, sendo que ainda hoje o DNA de ambos é 98% igual. Ao tirar o homem de sua natureza divina e dar-lhe uma natureza de macaco, Darwin humilhou o ser humano pela segunda vez.
Depois, vem o filósofo Artur Schopenhauer (1788-1860) e afirma que nossas crenças e sentimentos não são uma construção de nossa razão e inteligência, mas são impulsos de nossa própria biologia. “Todos somos escravos em nossa própria morada”, disse ele. Sigmund Freud (1856-1939) conclui, após suas pesquisas, que Schopenhauer estava certo, e afirma que a maior parte de nossos pensamentos e sentimentos vem de nosso inconsciente. Não bastasse isso, Friedrich Nietzsche (1844-1900) grita ao mundo que “Deus está morto!”, para se referir à grande parcela da humanidade que não acredita na existência de Deus, e a terceira humilhação está posta.
O pessimismo, o desencanto e a desesperança estão presentes nas decisões humanas de não gerar muitos filhos e, para grande parte, não gerar filho nenhum
Essa sequência, ao lado da revolução científica e tecnológica, lança o ser humano num poço de ignorância e pessimismo, fazendo que a própria razão da existência comece a ser posta em xeque. Em termos sociais, surgem os estados mentais de depressão e desesperança, os quais são agravados pela opressão política, redução das liberdades individuais e pelo estado revelado por Noreena Hertz, em seu livro O Século da Solidão.
Ela afirma que a solidão não é apenas a sensação de falta de amor, companhia e intimidade, mas também a sensação de ser ignorado, não visto e não cuidado pela família, amigos e vizinhos; tudo isso acompanhado de nos sentirmos não apoiados e não cuidados por nossos concidadãos, empregadores, nossa comunidade e nosso governo, conclui Noreena.
Juntando tudo isso, ainda sem muita elaboração científica, e somando os problemas de falta de emprego, pobreza e medo da velhice, dá para afirmar que o pessimismo, o desencanto e a desesperança estão presentes nas decisões humanas de não gerar muitos filhos e, para grande parte, não gerar filho nenhum.
Parece-me que, na tentativa de compreender os rumos da população mundial e a possibilidade de sua redução tão expressiva, os elementos que aqui trago não respondem a tudo, mas certamente eles têm sua parcela de contribuição para as causas das previsões publicadas.