A ida de Damares e de Queiroga até Botucatu atendia um propósito exclusivamente político, já que se tratava de um caso de potencial reação adversa à vacina. Ocorre que não se tratava de efeito colateral do imunizante. O Centro de Vigilância Epidemiológica apresentou laudo concluindo que a menina tinha uma síndrome cardíaca rara. Buscou-se analisar se havia causalidade entre a parada cardíaca e a aplicação do imunizante, o que acabou descartado pelos integrantes do Grupo de Trabalho em Eventos Adversos Pós-vacinação da Comissão Permanente de Assessoramento em Imunizações.
Ainda que com o devido esclarecimento técnico, os ministros não apenas não se manifestaram como as postagens originais de Damares continuam em suas redes sociais. Queiroga, que foi presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia, deveria ter a decência de, como autoridade máxima da saúde, reforçar a não associação entre a vacina e a parada cardíaca.
Mas o que esperar de quem falsifica o número de mortes associadas ao processo de imunização? Em entrevista para a Jovem Pan, o Ministro da Saúde deu informações que conflitam com os dados epidemiológicos de sua pasta. Desmentido pelos fatos, apelou à dissimulação, confundindo deliberadamente notificações de óbitos ainda sob investigação com aqueles com ligação devidamente comprovada.
O que se viu em Botucatu foi a tentativa de se armar um circo, um espetáculo grotesco de exploração política para usar o caso de uma criança doente de modo a reforçar o discurso contra a imunização infantil. As condições ideais para isso estavam postas, inclusive com a decisão precipitada da prefeitura de Lençóis Paulista em suspender a vacinação. Felizmente os caçadores de mal súbito viram frustradas suas expectativas. A menina está bem, e a vacinação continuará.