Vi o céu aberto, e eis um cavalo branco. O seu cavaleiro se chama Fiel e Verdadeiro e julga e combate com justiça. Os seus olhos são como chama de fogo; na cabeça dele há muitos diademas; tem um nome escrito que ninguém conhece, a não ser ele mesmo. Está vestido com um manto encharcado de sangue, e o seu nome é ‘Verbo de Deus’. Os exércitos do céu o seguiam, montados em cavalos brancos e vestidos de linho finíssimo, branco e puro. Da sua boca sai uma espada afiada, para com ela ferir as nações. Ele mesmo as regerá com cetro de ferro e ele mesmo é o que pisa o lagar do vinho do furor da ira do Deus Todo-Poderoso. No seu manto e na sua coxa está escrito um nome: ‘Rei dos reis e Senhor dos senhores’.
Então vi um anjo posto em pé no sol. Ele gritou com voz forte, dizendo a todas as aves que voam pelo meio do céu: Venham, reúnam-se para a grande ceia de Deus, para comer carne de reis, carne de comandantes, carne de poderosos, carne de cavalos e seus cavaleiros, carne de todos, quer livres, quer escravos, tanto pequenos como grandes. E vi a besta e os reis da terra, com os seus exércitos, reunidos para fazer guerra contra aquele que estava montado no cavalo e contra o seu exército. Mas a besta foi presa, e com ela foi preso o falso profeta que, com os sinais feitos diante da besta, seduziu aqueles que receberam a marca da besta e eram os adoradores da sua imagem. Os dois foram lançados vivos dentro do lago de fogo que queima com enxofre. Os outros foram mortos com a espada que saía da boca daquele que estava montado no cavalo. E todas as aves se fartaram das suas carnes.”
A voz é a mesma que João ouviu expressar louvor pela queda de Babilônia – o som de um exército de anjos, que proclama: Aleluia! Pois reina o Senhor, nosso Deus, o Todo-Poderoso. A esta altura da composição do Apocalipse o reino de Deus não foi ainda completamente estabelecido; Jesus tem de voltar em triunfo primeiro – um acontecimento que ainda está por vir. João está narrando antecipadamente este acontecimento. O julgamento da Babilônia foi anunciado como o primeiro grande ato do estabelecimento do Reino de Deus. Antes que o governo de Deus obtenha a supremacia, os adversários humanos e demoníacos têm de ser afastados; a vitória sobre estes é o início do governo triunfal de Deus. E a voz anuncia alegremente o casamento do Cordeiro, e este é iminente. Mas este somente se consumará na vinda de Jesus. Este acontecimento do futuro – a união perfeita de Jesus com sua igreja – é o que João está anunciando com a figura do casamento do Cordeiro. À noiva é dado vestir-se de linho finíssimo, resplandecente e puro – ou seja, a noiva tem de enfeitar-se a si mesma para o casamento; mas seu adorno foi lhe dado, como um presente de Deus. E a roupa de casamento é um vestido branco simples. Esta roupa consiste nos atos de justiça dos santos, a perseverança na santidade, a guarda dos mandamentos de Deus e a firmeza na fé em Jesus.
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O casamento do Cordeiro foi anunciado por um grande grupo de anjos. Agora, um só anjo profere uma bem-aventurança sobre os que participarão da festa de casamento. Nessa agem, a igreja é ao mesmo tempo a noiva e os convidados. A noiva é uma referência aos crentes de modo coletivo, e os convidados são os crentes considerados individualmente. A consumação messiânica, além de ser representada como uma ceia de casamento, a ceia das bodas, também é um banquete alegre. Mas ninguém terá o à festa de casamento por méritos próprios; todos têm de receber um convite de Deus. Como Grant Osborne escreveu: “Deus está no controle. Ele não somente ‘dá’ a roupa de casamento à noiva, como também ‘chama’ aqueles que deseja que participem da ceia das núpcias”. Pois, de acordo com a Sagrada Escritura, a iniciativa da salvação é sempre a chamada de Deus. O anjo também diz a João: São estas as verdadeiras palavras de Deus. Em face do mal que a igreja a na terra, o anjo acrescenta uma declaração solene de que esta promessa de bênção e da festa messiânica é palavra de Deus infalível. João foi tomado de pavor com o que ouviu e com a presença do anjo declarando que a bem-aventurança sobre os convidados à ceia era de fato palavra de Deus. É possível que João tenha confundido a voz do anjo com a de Jesus. Mas o anjo repreendeu a João, dizendo que era um conservo de João e dos seus irmãos que guardam o testemunho de Jesus, pois somente Deus pode ser adorado pelos homens.
Aqui podemos perguntar: o que é mais importante – nosso conforto terreno ou a formação de Jesus em nós? O fato de Deus detestar a impiedade da Babilônia e de que a punirá não o impede de usá-la para realizar seus propósitos na nossa vida, nos purificando e santificando. E não importa qual seja o sofrimento que os cristãos em, há uma recompensa – e que recompensa maior pode haver do que o cristão estar finalmente identificado com Jesus por meio da ressurreição e ter um lugar permanente na festa de casamento do Cordeiro, festejando a união completa entre Jesus e os santos?
A agem continua, e o apóstolo afirma: vi o céu aberto. No início da sua profecia de Apocalipse, João viu uma porta aberta no céu, quando ele foi chamado para ver segredos divinos. O que estas visões indicam agora se tomou realidade, com o céu aberto para abrir caminho para o Messias que vem em triunfo. E o Messias vem em triunfo em meio a imagens espetaculares. O cavalo branco representa a vitória final de Jesus sobre os poderes malignos, que oprimiram o povo de Deus no decorrer dos séculos. E não pode haver erro na identificação do cavaleiro deste cavalo: ele se chama Fiel e Verdadeiro. As duas palavras são praticamente sinônimas, porque a ideia hebraica de verdade corresponde a confiabilidade. Na vida, na morte e na ressurreição de Jesus a fidelidade e veracidade de Deus se revelaram no cumprimento de sua aliança com Israel. A volta de Jesus será para cumprir final e totalmente as promessas da aliança de Deus com seu povo eleito. E o Messias julga e combate com justiça. Assim, a volta triunfal de Jesus será um ato de justiça, refletindo a fidelidade de Deus, porque o extermínio do mal e dos pecadores é parte da salvação divina.
O fato de Deus detestar a impiedade da Babilônia e de que a punirá não o impede de usá-la para realizar seus propósitos na nossa vida, nos purificando e santificando
Também é digo que os seus olhos são como chama de fogo. O olhar de Jesus analisa tudo, e aos seus olhos nada fica oculto. Seus olhos são os do juiz divino que enxerga infalivelmente o interior dos corações e das mentes. E na cabeça dele há muitos diademas. O Messias usa uma coroa pois é o Senhor dos senhores e o Rei dos reis, e sua vinda será a manifestação pública e universal da soberania que já é sua, por sua morte e ressurreição – e o seu triunfo sobre todos os poderes hostis. Ele tem um nome escrito que ninguém conhece, a não ser ele mesmo, que pode referir-se a Yahweh, o nome pelo qual Deus se revelou a Moisés. Mas, que ele ainda tenha um nome secreto significa que nenhuma mente humana pode compreender a profundidade do seu ser. Ele está vestido com um manto encharcado de sangue. O quadro do Jesus vencedor usou aspectos da visão de Isaías 63,1-3, do conquistador que pisa o lagar da ira de Deus, e que tem suas roupas manchadas com o sangue dos seus inimigos, vencidos e esmagados em batalha. Jesus aqui é representado como o guerreiro e dominador do mal, não o redentor.
O título Verbo de Deus destaca que Jesus em pessoa é a Palavra de Deus – a personificação de todo o plano de redenção de Deus, cumprimento da profecia do Antigo Testamento e do Novo Testamento. E os exércitos do céu o seguiam, montados em cavalos brancos e vestidos de linho finíssimo, branco e puro. Estes exércitos representam os santos. As roupas brancas e puras dos exércitos celestiais indicam que eles participam da vitória do Messias. Mas esses santos não usam armadura nem têm armas. Assim, nada é mencionado sobre sua atuação no combate; somente o Messias lutará contra seus inimigos. A visão também capta que da sua boca sai uma espada afiada, para com ela ferir as nações; assim, a única arma usada na batalha final será a Palavra de Deus. A ideia nos leva de volta à criação. Deus criou o mundo por meio da sua Palavra. Ele falou, e tudo foi feito. O julgamento do velho sistema será executado por intermédio da Palavra de Deus. A espada com a qual Jesus mata é aquela que sai de sua boca: sua palavra de juízo verdadeiro. E o cetro de ferro é a vara do pastor, que mata os inimigos das ovelhas. O pastorear, nesse caso, não significa cuidar das ovelhas, mas destruir os inimigos predadores.
Por fim, o Messias pisa o lagar do vinho do furor da ira do Deus Todo-Poderoso. O derramamento do sangue dos ímpios será o pagamento justo pelo derramamento do sangue dos santos. O juízo sobre eles será executado porque ele é o Deus todo-poderoso, cuja soberania garante que a justiça será feita. Por fim, no seu manto e na sua coxa está escrito um nome: “Rei dos reis e Senhor dos senhores”. O mundo então conhecerá Jesus como rei dos reis e senhor dos senhores. Jesus, não o imperador romano, é o soberano sobre todos os governantes da terra. O Anticristo pode ser o governante de seus reis vassalos, mas Jesus é soberano sobre tudo e todos, inclusive sobre o Anticristo. Como escreve Richard Bauckham, agora “o céu se abre e a própria verdade, a Palavra de Deus [...], cavalga em direção à terra. Esse é o ponto em que a perspectiva celeste prevalece no plano terreno, dissipando, finalmente, todas as mentiras da besta. Desse modo, ficará evidente aos olhos de todos quem tem a real soberania divina”. Deste modo, o Messias guerreiro é o próprio Jesus-Deus, totalmente soberano sobre tudo e todos.
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Na visão de João, o Messias guerreiro se apresenta à igreja montado em um cavalo de guerra branco, como o herói vencedor, e tem vários nomes: ele é o Fiel e Verdadeiro; ele tem um nome escrito que ninguém conhece, a não ser ele mesmo; ele é o Verbo de Deus, aquele que é a Palavra de Deus imbuída de autoridade, tanto juiz quanto executor da sentença; ele é o Rei dos reis e Senhor dos senhores, ou seja, ele, não o dragão nem a besta ou o falso profeta, é o único soberano sobre os reis da terra. De acordo com Richard Bauckham: “Ele vem como ‘rei dos reis e senhor dos senhores’ [...] com o propósito de destruir todo poder político que não reconhece o governo de Deus que ele implementa na terra”. Aqui temos um vislumbre de como o Messias guerreiro agirá no mundo por ocasião de sua segunda vinda triunfal: seu juízo e combate serão totalmente justos e verdadeiros; seus olhos serão como chama de fogo, ou seja, ele verá tudo e saberá tudo, e seu juízo será executado em caráter definitivo; sua veste estará encharcada de sangue dos seus inimigos; ele destruirá as forças do mal com a espada afiada que sai da sua boca; ele pastoreará as nações com o cetro de ferro, que despedaçará e destruirá seus inimigos; e ele pisará o lagar do vinho, uma imagem da ira divina e da destruição dos ímpios. Que imagem poderosa! Que nos rendamos a Jesus enquanto há tempo!
Por fim, João vê um anjo posto em pé no sol, onde todos o podem ver. O anjo gritou com voz forte, chamando todas as aves que voam pelo meio do céu, para que se reúnam para a grande ceia de Deus. Esta ceia contrasta com a ceia das bodas do Cordeiro, onde os santos são convidados. A mensagem é terrível e impactante, garantindo, antes mesmo do início da batalha, que o resultado está definido. E como em Ezequiel 39, esta ceia inclui carne de reis, carne de comandantes, carne de poderosos, carne de cavalos e seus cavaleiros, carne de todos, quer livres, quer escravos, tanto pequenos como grandes. Segundo Richard Bauckham: “O quadro cruel da matança em 19,18-19 faz uso de uma linguagem surpreendentemente universal: ‘carne de todos: livres e escravos, pequenos e grandes’ [...]. Essa não é uma representação das nações que vêm adorar a Deus, mas da destruição daqueles que se recusam a fazê-lo”. Aqui, carne de todos aponta para aqueles que receberam a marca da besta e decidiram aliar-se ao Anticristo, em vez de se humilhar diante dos juízos de Deus, reconhecendo a soberania de Jesus. Todos os participantes da batalha do Armagedom serão destruídos, o mal e os homens maus. Assim, esta batalha final conduz a um clímax todas as batalhas que Deus travou em benefício do seu povo e consuma o triunfo obtido por Jesus na cruz.
João agora vê as forças do inimigo alinhadas, no Armagedom, reunidas para fazer guerra contra aquele que estava montado no cavalo e contra o seu exército. À testa destas forças está a besta – o próprio Anticristo. Em seu apoio vêm os reis da terra, com os seus exércitos. Este é o verdadeiro “dia do Senhor” profetizado no Antigo Testamento. Esperaríamos uma descrição da batalha com os reis da terra, mas em vez disso João trata do seu tema principal, a derrota do Anticristo. A derrota dos reis é secundária. João afirma que a besta foi presa, e com ela foi preso o falso profeta [...]. Os dois foram lançados vivos dentro do lago de fogo que queima com enxofre. O lago de fogo – que remete ao Vale de Hinom, que era o depósito de Jerusalém, onde o fogo nunca se extinguia por causa do lixo que lá era queimado – descreve o julgamento final e irreversível. A ideia é de um castigo consciente recebido no lago de fogo. E o apóstolo fala agora de modo resumido da destruição dos exércitos do Anticristo. Tudo o que ele diz é que eles foram mortos com a espada que saía da boca daquele que estava montado no cavalo. Os exércitos do mal foram totalmente destruídos. Ele conclui: E todas as aves se fartaram das suas carnes. No Antigo Testamento, ser comido por cães ou aves era a humilhação máxima que uma pessoa poderia sofrer. Portanto, Deus está retribuindo aos incrédulos o que eles fizeram aos santos. Grandes massas de pessoas permanecerão sem se arrepender e com o coração endurecido, para os quais não há nada a esperar a não ser o julgamento e a ira do Cordeiro.
A batalha final conduz a um clímax todas as batalhas que Deus travou em benefício do seu povo e consuma o triunfo obtido por Jesus na cruz
Esse trecho impactante do Apocalipse de João nos incentiva a orar, na esperança de que a vitória de Jesus sobre o mal ocorra com celeridade. Nós ainda estamos no meio da luta, experimentando mais sofrimento que triunfo. Todavia, cremos que a vitória final do Messias sobre o mal e a maldade humana está garantida e que o Deus todo-poderoso de fato a alcançará. Essa é a verdadeira mensagem do Apocalipse. Portanto, oremos e confiemos que Jesus, que começou essa batalha na sua primeira vinda, há de encerrá-la em sua segunda vinda com vitória total para sua própria glória. Pois, como se canta em muitas igrejas cristãs, Vencendo vem Jesus:
Os meus olhos viram o esplendor da vinda do Senhor
Que extermina da vindima suas uvas de rancor;
Como um raio é sua espada, flamejante o seu fulgor,
Vencendo vem Jesus!
Glória, glória, aleluia!
O clarim que chama os crentes à batalha já soou;
Jesus, à frente do Seu povo, multidões já conquistou.
O inimigo, em retirada, seu furor patenteou.
Vencendo vem Jesus!
Eis que em glória refulgente sobre as nuvens descerá
E as nações e os reis da terra com poder governará.
Sim, em paz e santidade toda a terra regerá.
Vencendo vem Jesus!
E por fim entronizado as nações há de julgar;
Todos, grandes e pequenos, o Juiz hão de encarar.
E os remidos triunfantes
em fulgor hão de cantar: Venceu o Rei Jesus!
Glória, glória, aleluia!
Mas devemos notar que a batalha do Armagedom, como registrada no Apocalipse, é quase anticlimática. A promessa é que todos que foram recrutados para o exército da besta e participarem desse grande dia da ira derradeira, do maior ao menor, serão massacrados pelo Messias. Em seguida, a batalha é descrita, só que não há embate. Os exércitos estão em ordem de batalha e preparados, mas nenhuma batalha é registrada. O poder do Messias guerreiro sobrepuja a tudo, e a guerra é vencida antes mesmo de começar. A besta e o falso profeta são capturados e enviados ao lago de fogo. Os exércitos do Anticristo são massacrados e as aves, convidadas para se banquetear com as carnes deles. Assim, a grande pergunta, segundo Grant Osborne, é: “Você será aquele que come ou a comida?”