Meu ponto é o seguinte: não quero agir em nome do progresso da humanidade e sei bem o que muitas tragédias humanas escondem: elas poderiam ter sido evitadas se fôssemos capazes de reconhecer que por trás de toda boa intenção há um ser humano transitando nos labirintos das incertezas. Sempre existe a possibilidade de merdas acontecerem.
Então, considerando a persistente estrutura da natureza humana, proponho o seguinte: a banalidade do heroísmo deve ser uma das mais importantes saídas para se combater a banalidade do mal. A tese não é minha, infelizmente, mas uma articulação pouco audaciosa entre Philip Zimbardo e Hannah Arendt.
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Em vista disso, declaro para os devidos fins que o título do meu novo livro deve ser interpretado como um irônico exercício de modéstia. Sem excessos e sinalização de virtudes, por favor. Valho de uma inversão sugestiva: não precisamos esperar por homens extraordinários, cheios de certezas e grandes respostas salvadoras para os problemas e dramas do mundo.
Nossas esperanças podem ser depositadas nos pequenos detalhes do cotidiano, nas pequenas pretensões do dia a dia e nas alegrias, por vezes angustiantes, de nossas incertezas. Só não podem ser depositadas em salvadores da pátria e na política. A política não salva. Em vez disso, condena. Sou daqueles que reconhecem o caráter trágico da atividade política. O que salva é a arte e a religião. Às vezes, o futebol.
Não penso em arte e religião como duas esferas separadas. O amor é criativo. Aliás, a virtude do amor consiste no exercício constante de humildade, sobretudo enquanto exercida para o próximo, no sentido mesmo da caridade cristã, que no fundo significa o reconhecimento de nossas limitações. Trato isso como um dogma. E, se caio em contradição, me perdoem.
Sou daqueles que reconhecem o caráter trágico da atividade política. O que salva é a arte e a religião. Às vezes, o futebol
Organizei o livro em quatro capítulos. Não sei se foi a melhor opção. Espero de vocês a crítica. Começo assim: “Primeiro, as banalidades”. Nesse capítulo, reuni minhas reflexões com um tom um pouco mais pessoal. Pedantismos a parte, chamo isso de “exercícios de imaginação sociológica”. No segundo capítulo, batizado de “Tribos morais naufragando no labirinto de espelhos”, abordo como a dinâmica das redes sociais afeta nossa vida em comunidade. Trato isso como experiência própria e assumo todas as responsabilidades e irresponsabilidades que eu tenho nesse ambiente. Em “Diálogos impertinentes e debates infrutíferos”, trato de temas que podem ser considerados mais polêmicos pela sensibilidade social. Por fim, no último capítulo, que chamei de “Minha cidadezinha interior”, abordo temas como arte, poesia, filosofia e educação, isto é, os lugares onde encontro meu refúgio profissional e existencial.
Eu espero que o nobre leitor da Gazeta do Povo, que sempre me incentivou a escrever, se veja como um verdadeiro parceiro na construção desse livro. Seja uma crítica, um elogio ou um xingamento, não importa, sou grato a vocês.