Mais que isso, não temos a noção exata de que todo aquele que coleta nossos dados tem a obrigação de garantir a segurança deles, seja ente público ou privado. Se não é possível garantir a segurança dos dados coletados dos cidadãos, essa coleta nem deveria ser feita, já que as consequências de um vazamento são imprevisíveis.
Após a pandemia, a criminalidade especializada no universo digital cresceu muito. Por isso, as consequências para as vítimas são ainda piores. Cada vez surgem mais quadrilhas especializadas em dar algum tipo de uso criminoso a dados que circulam por aí, muitas vezes vendidos em pacotes por outras quadrilhas. Com o cidadão, as autoridades e responsáveis por regulamentação são tigrões. Hoje, para ficar em dia com nossas obrigações de cidadãos, temos de ceder os nossos dados para sistemas governamentais e de empresas privadas.
Muita gente nem sabe que dados compartilha, com que órgãos e empresas ou o que pode ser feito com isso. Infelizmente, os bandidos já sabem muito bem e estão se especializando.
Muitas vezes existe um cruzamento entre esses entes, em operações fundamentais para as pessoas como a eletrônica, a entrega de imposto de renda, as nossas contas do governo eletrônico e documentação eletrônica. Tente fugir disso. Tente argumentar que você não sente segurança em ceder todos os seus dados porque já houve inúmeros vazamentos e eles não tiveram consequência nenhuma.
É impossível para o cidadão fugir da determinação de compartilhar seus dados. Até o tal cadastro positivo foi feito de forma a primeiro obrigar o compartilhamento e depois dar a alternativa de ir lá dizer se não queremos. Muita gente nem sabe que dados compartilha, com que órgãos e empresas ou o que pode ser feito com isso. Infelizmente, os bandidos já sabem muito bem e estão se especializando.
É muito curioso que o braço forte da lei seja tão eficiente com os cidadãos mas seja uma tchuchuca com Big Techs, teles e entidades governamentais que não zelam pelos dados como deveriam. Não estamos falando de quem não tem condições de bater de frente com esses criminosos, mas de entes que movimentam uma quantidade enorme de recursos e têm o a tecnologia no estado da arte para proteção de dados. Quando tudo dá errado e quem tinha obrigação de proteger dados que pertencem ao cidadão falha, a punição não vem. Não há consequências.
Pior ainda, não há planos efetivos para mitigar os efeitos que o uso desses dados por criminosos pode ter – e efetivamente tem – na vida de um sem número de cidadãos. Já ou da hora de levar a sério nossos direitos no universo digital. Não são mundos separados, é um só. Confiamos algo a empresas e entes governamentais que legalmente têm o dever de dar segurança e esse dever simplesmente não é cumprido. Diante disso, não se faz nada para evitar que cada uma das vítimas tenha a vida revirada do avesso pelo primeiro bandido que botar a mão naquilo que alguns assumiram como obrigação proteger.
A cereja do bolo é que tampouco se exige que Big Techs, bancos e teles tenham sistemas eficientes para proteger vítimas dos golpes já ocorridos. Cada pessoa tem de correr atrás, parar a vida, arcar com prejuízos e se explicar como se fosse uma total exceção, um caso único. E não são. Golpes nas redes sociais, no Instagram e outras, são cada vez mais comuns. Falamos aqui de uma massa de pessoas que todas essas entidades já sabem que foram indevidamente expostas e não receberam uma única salvaguarda para que as consequências dessa exposição fossem pelo menos reduzidas.
Com os mais fortes, a regulamentação e o braço forte da lei são tchuchucas. ou da hora de inverter essa lógica.