Autoridades que vivem longe do povo julgam que o povo é ignorante e precisa de tutor. Quem tem “tutor” hoje é gato e cachorro, segundo a novilíngua. A rede social sabe como separar os mentirosos, da mesma forma como o mercado afasta o mau produto. Cedo ou tarde o enganador é descoberto, exposto e excluído. Não é necessário um Estado-tutor, que será tentado a rasgar mais uma vez a Constituição. Protejam-nos dos bandidos das saidinhas, das audiências de custodia, dos corruptos, das leis lenientes, dos desvios dos agentes do Estado; dos farsantes nas redes sociais protegemo-nos nós. Porque é muito perigoso que depois o tutor queira ceder nossa liberdade só quando ele julgar conveniente.

Não ouvi reclamação alguma contra o cancelamento de princípios da Constituição, num evento que se propõe a valorizar a democracia. Quero, sim, principalmente, a punição dos fanáticos – ou ignorantes, ou mercenários – que destruíram artes, história, patrimônio público. Ouvi declarações grandiloquentes e hipócritas sobre a Carta Magna, mas ninguém reclamou especificamente do encolhimento da liberdade de expressão, do cancelamento da inviolabilidade de deputados e senadores por quaisquer palavras, das agressões à liberdade de expressão sem anonimato, à liberdade de reunião sem armas, à vedação de qualquer tipo de censura, ao amplo direito de defesa, à proibição de tribunal de exceção, à exigência de juiz natural, de seguir o devido processo legal. Sem isso, não existe a democracia inabalável. Sob o título do evento, está pisoteada e abalada a democracia.

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

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