Sem receber voz de prisão, ela ficou sete meses encarcerada, enquanto sofria com problemas graves de saúde, já que tem histórico de câncer no útero, vesícula e estômago, e precisa de uma dieta restritiva para evitar complicações. “Cheguei a ficar 10 dias internada, e quase morri.”

Em entrevista à Gazeta do Povo, ela informou também que não recebeu artigos de higiene, ando dias sem sabonete, toalha ou roupas íntimas para vestir, e que sofreu tortura psicológica durante a prisão. “Falavam que a gente merecia ‘um calibre 12 na cara’, nos xingavam de 'terroristas', e ameaçavam nos mandar para a solitária”, lamenta a engenheira, ao citar ainda uma revista geral em que as presas do 8 de janeiro ficaram nuas em um corredor da prisão. “Parecia um campo de concentração.”

Regina Aparecida Modesto, de 54 anos, perdeu sua casa na Serra da Cantareira, em São Paulo, e seu escritório na Avenida Paulista | Foto: Arquivo pessoal/Regina Modesto

6. Estudante de medicina da USP tem imagens que mostram sua inocência, mas STF não considerou

Depois que imagens dos atos de 8 de janeiro registradas por câmeras de segurança dos prédios públicos foram disponibilizadas, o engenheiro de telecomunicações Thiago Duarte analisou o material para provar que a esposa, a estudante de Medicina da USP Roberta Jérsyka, 35, não cometeu crime.

As imagens mostraram que ela caminhou pelo Senado, deitou-se no chão e orou. No entanto, o STF não considerou as provas, e a estudante ou sete meses na prisão, cinco deles sem contato com o marido. Além disso, colegas pediram sua expulsão da USP por ter participado nos atos de 8 de janeiro, e a universidade abriu processo istrativo contra ela, que segue em trâmite.

Ainda não há data para seu julgamento pelo STF, mas ela gostaria que ocorresse de forma presencial. “Hoje somos nós, de direita, conservadores, amanhã pode ser qualquer um. Não estou pedindo privilégio, estou pedindo um julgamento justo, que todo cidadão merece”, afirma Roberta. A matéria completa está aqui.

Thiago Duarte e a esposa Roberta Jérsyka, que foi presa por participar dos atos de 8 de janeiro. Ele organizou as imagens de câmeras de segurança para demonstrar que Roberta não cometeu nenhum crime. | Foto: Arquivo Pessoal

7. Corretor de seguros relata humilhações que sofreu: “nos trataram como animais”

Detido no acampamento em frente ao Quartel-General do Exército em Brasília na manhã de 9 de janeiro, o corretor de seguros Roney Duarte Botelho, de 50 anos, nem foi à Praça dos Três Poderes, mas ficou 67 dias preso e relata situações degradantes que vivenciou. “Nos trataram como animais.”

Segundo ele, pessoas foram colocadas por horas em ônibus sem ter alimento ou banheiro, e idosos começaram a urinar nas roupas. Depois, todos ficaram confinados na Academia Nacional de Polícia “sem infraestrutura, com fome e ando mal”, recorda o corretor, que esperou três dias e duas noites até ar pela triagem com delegados da Polícia Federal (PF) para descobrir que estava preso.

Ao chegar à penitenciária, ele conta que foi encaminhado para revista com uma policial feminina e ficou extremamente envergonhado. “Precisei baixar a bermuda e ficar pelado, literalmente, agachando, virando de costas e ficando em posições extremamente constrangedoras, algo absurdo mesmo”, afirma, ao citar ainda que dormia no chão, ao lado do vaso sanitário, que ava frio e fome. A matéria completa está neste link.

Antes e depois do corretor de seguros Roney Duarte Botelho, de 50 anos, que foi preso em frente ao QG de Brasília e ou 67 dias na Papuda | Foto: Arquivo pessoal/Roney Botelho

8. Agricultor preso no 8/1 percorre 300 km de estrada de chão toda semana para ir ao fórum

Com tornozeleira eletrônica desde o dia 8 de agosto – após sete meses de prisão por se manifestar em Brasília carregando uma bandeira e um cantil de água –, o agricultor Sipriano Alves de Oliveira precisa percorrer 300 quilômetros de estrada de chão toda segunda-feira, de moto, para apresentar-se no fórum mais próximo de sua residência, no interior do Pará.

“Saio 5 horas da manhã, preciso pegar balsa, e gasto quase R$ 200, sem almoço, para ir e voltar”, relata o morador de São Felix do Xingu. “Isso sem contar as épocas de chuva em que os rios transbordam e as estradas ficam intrafegáveis”, continua.

De acordo com o advogado criminal Ezequiel Silveira, essa medida imposta aos presos do 8/1 não é solicitada nem a criminosos de alta periculosidade. “O comparecimento ocorre uma vez por mês para casos mais graves, mas o ministro [Alexandre de Moraes] exigiu apresentação semanal para os presos do 8/1, algo que nem existia no sistema judicial. “A injustiça está sendo muito grande com a gente”, lamenta Sipriano.

Após sete meses preso, Sipriano Alves de Oliveira precisa percorrer semanalmente 300 quilômetros de estrada de chão – inclusive em épocas de chuva – para cumprir uma das medidas cautelares | Foto: Arquivo pessoal/Sipriano Alves

9. Pastora presa no 8/1 fundou igreja na prisão e pode ser condenada a 14 anos

Outro caso relatado pela Gazeta do Povo é o da pastora e assistente de enfermagem Sandra Maria Menezes Chaves, de 49 anos. Moradora de São Paulo e avó de três netos, ela viajou até Brasília para clamar a Deus pelo país dia 8 de janeiro, mas foi presa durante sete meses e pode ser condenada a 14 anos de cárcere. “Tudo que fiz foi orar”, afirma a paulista, citando que a prova que a “incrimina” é uma foto “com as mãos ao céu”.

Segundo ela, a prisão ocorreu no Senado, onde deu depoimento durante a madrugada e tentou ligar para seus filhos, às 3 horas. Como não atenderam, ou “sete meses sem vê-los e sem falar com eles”, lamenta a mulher, ao citar ainda que ficou sentada no chão até a tarde do dia seguinte, sem comida ou água.

Na prisão, a pastora conta que tentava manter-se firme para transmitir força às outras presas. “Eu fazia jejum, me consagrava e orava”, recorda, ao citar que fundou uma igreja na sua ala com realização de cultos diariamente a fim de ajudar presas em depressão profunda. “Todas estavam desesperadas, e algumas falavam em se matar.” A matéria completa está neste link.

A prova que “incrimina” Sandra é uma foto dela em oração “com as mãos ao céu” na área externa do Congresso | Foto: Arquivo pessoal/Sandra Maria Menezes Chaves

10. Com comorbidades graves, Cleriston Pereira Cunha morreu dentro do presídio, deixando esposa e duas filhas

A defesa de Cleriston Pereira da Cunha afirmava que deixá-lo na prisão seria sentença de morte, e a Procuradoria-Geral da República (PGR) já tinha emitido parecer recomendando liberdade provisória devido aos problemas de saúde que o comerciante enfrentava. No entanto, o ministro Alexandre de Moraes não atendeu ao pedido, e Clezão — como era conhecido — morreu na manhã do dia 20 de novembro, aos 46 anos. Ele deixou esposa e duas filhas.

“Minha cela era ao lado da dele, e víamos o Cleriston ar mal uma ou duas vezes por semana”, recorda o paranaense David Michel, preso do 8/1 que conheceu Cleriston na carceragem. Segundo ele, as crises começavam com vômito e eram seguidas por convulsões e desmaio. “Em uma das vezes o quadro foi tão intenso que achamos que ele tinha morrido”, recorda, ao citar que Clezão ficou 15 dias usando cadeira de rodas após essa crise.

“Tudo em meio à situação desumana de estar na prisão”, onde “era humilhado sem ter cometido crime nenhum”, continuou David, pontuando que o local é insalubre e a alimentação “é um lixo, uma lavagem, algo que nem bicho come”, disse. “E o Clezão aguentou isso durante 10 meses. Ele foi muito resistente... Meu Deus!”. A reportagem completa com relatos de colegas de Clezão está disponível aqui.

Cleriston com a família nas comemorações de Ano Novo, oito dias antes de ser preso nas manifestações. Ele morreu no Complexo Penitenciário da Papuda dez meses depois. | Foto: Arquivo pessoal

11. Médico com arritmia cardíaca ou 324 dias na prisão

O médico Frederico Rosário Fusco de Oliveira, de 60 anos, também foi preso dia 8 de janeiro e ou quase 11 meses na prisão, apesar de correr risco de morte por conta de grave cardiopatia com histórico de arritmia. Ele perdeu mais de 15 quilos.

De acordo com a advogada Carolina Siebra, Frederico foi preso no dia 8 de janeiro, após ajudar uma pessoa que estava ando mal nos arredores do Palácio do Planalto e ser convidado pelos policiais para se abrigar no interior no prédio. “Os policiais pediram para ele entrar porque o ambiente estava inóspito por conta das bombas de efeito moral”, relatou a advogada.

O médico foi preso com os demais e, mesmo sem material ou remédios, cuidou da saúde de diversos colegas na prisão. Inclusive, foi ele quem prestou os primeiros socorros ao colega Cleriston Pereira da Cunha com massagem cardíaca até a chegada da equipe de emergência na tentativa de salvá-lo. “Clezão não será esquecido”, escreveu Frederico em sua camiseta ao deixar o presídio dia 28 de novembro.

Após 324 dias preso, o médico Frederico Rosário deixou o Complexo Penitenciário da Papuda dia 28 de novembro | Foto: Arquivo pessoal/Frederico Rosário

12. Idoso com comorbidades está preso desde o 8/1 e foi condenado a 17 anos por Moraes

“Restrição de liberdade não pode ser uma sentença de morte.” É assim que a Associação dos Familiares e Vítimas do 8 de Janeiro se refere ao caso do agricultor Jorginho Cardoso de Azevedo, de 63 anos. Preso por quase um ano sem armas e sem nenhuma prova de que tenha danificado patrimônio público, o idoso possui diversas comorbidades – inclusive oito pinos na coluna.

Seu julgamento pelo STF terminou em novembro, e ele foi condenado a 17 anos de prisão, pena sugerida pelo ministro Alexandre de Moraes, e apoiada pela maioria dos outros ministros. O ministro André Mendonça sugeriu pena de quatro anos e dois meses, enquanto o ministro Kassio Nunes Marques votou pela absolvição da maior parte dos crimes imputados por Moraes, com exceção do crime de incitar publicamente a prática de crime (artigo 286 do Código Penal), com pena de 4 meses em regime aberto (já paga pelos meses em que Jorginho está na prisão).

De acordo com a defesa do paranaense, ele está com a “saúde emocional extremamente abalada, com grave depressão”. O homem é casado há 40 anos e, antes de ser preso, cuidava do pai nonagenário na cidade de São Miguel do Iguaçu. “Todas as peças processuais que temos amparo legal no código de processo penal, já impetramos”, afirma a advogada Gislaine Alves Yamashita. “Agora, precisamos de um milagre”, finalizou.

Jorginho Cardoso de Azevedo com a esposa Marilei Niero De Azevedo. O agricultor é casado há 40 anos e, antes de ser preso, cuidava do pai nonagenário no interior do Paraná. | Foto: Arquivo pessoal

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