Sem chances de cassar a independência do BC, Lula redobra acusações contra a instituição de agir politicamente e de ser insensível ao desemprego. Em paralelo, o presidente investe na pressão de empresários e economistas críticos às maiores taxas de juros em seis anos e na indicação de diretores para o banco alinhados ao governo. Mas os números ruins da economia não levam, necessariamente, à queda dos juros, considerando o perfil vigilante do BC e a expectativa de a meta inflacionária ser atingida só em 2024. Durante debate no Senado, no fim de abril, Haddad afirmou que se a Selic seguir no nível atual as contas públicas vão piorar com baixo crescimento.
Em público, as falas de Lula tentam manter de pé a promessa aos eleitores de dias melhores na economia.
“A gente vai crescer mais do que os pessimistas estão prevendo. Vamos ver o que vai acontecer quando as pessoas começarem a produzir mais, a comprar mais, a vender mais. Será um salto importante”, disse durante reunião ministerial no Palácio do Planalto, em 3 de abril.
De acordo com o cientista político e diretor-geral do Ranking dos Políticos, Juan Carlos Gonçalves, o Brasil hoje é bem diferente daquele do início do século, quando Lula assumiu a presidência pela primeira vez. “O país não conta com aquela alta valorização das commodities minerais e do campo e ainda enfrenta insegurança jurídica, com o presidente ameaçando reestatizar empresas e extinguir marcos regulatórios”, disse.
Para ele, a postura de Lula afugenta investimentos externos e retarda o avanço do PIB. “Mesmo com um recuo significativo dos juros, é improvável que o país atinja crescimento anual acima de 3% nos próximos anos”, disse.
Gonçalves acredita que Lula acabará transferindo a responsabilidade pelas frustrações no plano econômico para o BC, o Congresso ou fatores externos. “Mas este sucesso ou fracasso é sempre creditado ao Executivo, como ensina a frase de James Carville, assessor do presidente americano Bill Clinton na campanha eleitoral de 1992: ‘é a economia, estúpido'”.
Gonçalves entende que a reforma tributária deveria ser a prioridade maior do governo, pois contribui diretamente com o crescimento do PIB e com a sustentabilidade fiscal, mesmo sem grandes ganhos imediatos. Ele destaca o estudo do economista Bráulio Borges, da LCA Consultores, que prevê expansão econômica de 33% em 15 anos, caso o projeto em discussão no Congresso seja aprovado.
“O escopo da reforma definirá se o Brasil continuará com resultados medíocres ou se terá juízo para se tornar um país viável”, finalizou.
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