Para ele, o método ideal para o governo buscar maioria no Congresso seria partir de grandes projetos de futuro. “Com a legitimidade da vitória eleitoral e a mobilização social, os partidos se alinhariam. Pequenas concessões aqui e acolá dariam feição à coalizão. Instável e dependente de compromissos, a maioria seria política e programática”, explicou. Ele lembrou que houve por décadas vários arranjos realistas e integrados à cultura política nacional. 5271

O professor avalia que Lula está sendo pressionado pelo Parlamento a adotar o modelo implementado no governo Bolsonaro, no qual os líderes partidários se unem em blocos com interesses dispersos para obter recursos que servem à cooptação individual. Como resultado, a emenda individual aprovada no Orçamento tornou-se instrumento fundamental e relevante para a ação parlamentar. E, nesse arranjo, o Executivo se acomoda, ficando dependente de acordos pouco transparentes estabelecidos no Congresso.

Paralisia do governo favorece rearticulação da oposição 2t6v19

O desafio enfrentado por Lula torna-se, contudo, mais complexo diante da insistência de Lira em regularizar a rápida liberação recursos do Orçamento, destacando que cargos em ministérios já não são suficientes para formar base congressual. Um exemplo que parece confirmar essa tese é o caso do União Brasil, cuja representação em três ministérios não se converteu em votos favoráveis ao governo.

Segundo analistas, sem apoio garantido no plenário, o governo acaba paralisando e favorecendo a rearticulação da direita. Ciente disso, o presidente da Câmara tem cedido espaços à oposição, como o comando para cargos em comissões permanentes e a abertura de Is.

Nos bastidores também há a impressão de que as tensões entre governo e Parlamento tendem a aumentar com a perspectiva de disputa de recursos limitados, com Lula e a Casa Civil buscando viabilizar investimentos públicos em infraestrutura abrigados um novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Apesar das críticas públicas e veladas feitas pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), em relação à articulação política do governo, o líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), negou que o presidente tenha cogitado alterar equipe ou métodos. Em 8 de maio, um dia antes da reunião de Lula com os líderes parlamentares, Rodrigues assegurou que os ministros Alexandre Padilha (Relações Institucionais) e Rui Costa (Casa Civil), além do deputado José Guimarães (PT-CE) e do senador Jaques Wagner (PT-BA), são de “total confiança” do presidente.

Assessores parlamentares consultados pela Gazeta do Povo lembram que, com um programa que enfoca políticas sociais e adota concepções estatistas para a economia, resta ao governo negociar de forma pragmática com os partidos de centro e centro-direita para avançar em alguns pontos. O poder individual de Lula por si só é insuficiente, e a falta de agenda consensual ampla de prioridades torna difícil construir governabilidade sustentável. Os primeiros reflexos disso já foram vistos em votações e até mesmo no ime com medidas provisórias (MP) editadas nos primeiros dias do ano. Há o risco até mesmo de parlamentares centristas, em retaliação, alterarem a MP que trata de atribuições dos ministérios comandados por políticos próximos a Lula.

Lula sugere desconhecer a realidade e não ter estratégia 5d3169

Apesar de todos os alertas e derrotas, Lula parece desconhecer o cenário do Congresso e a resistência de amplos setores da sociedade com seus planos de governo. Analistas consideram um erro o presidente resumir suas dificuldades de governar à barganha parlamentar ou à resistência do Banco Central (BC) independente, por exemplo. Além do aspecto meramente operacional, o de atender demandas dos parlamentares, as correlações das forças políticas mudaram muito nos últimos 20 anos.

Neste sentido, a economista Elena Landau expressou surpresa com a falta de habilidade com a qual Lula, um dos políticos mais experientes do país, está conduzindo os primeiros meses do seu terceiro mandato presidencial.

Mesmo tendo declarado voto no petista no segundo turno das eleições, ela destacou uma série de equívocos do presidente em artigo publicado nesta sexta-feira (12), no jornal O Estado de S. Paulo, o que sugere ausência de estratégia. A lista inclui desde ataques ao Banco Central até críticas ao “imperialismo americano”, ando pela mudança do Marco do Saneamento via decretos e a ação movida no Supremo Tribunal Federal (STF) contra a Eletrobras.