Ressalvando que o hospital aguardará a disponibilização da íntegra do estudo para uma análise completa, Breda diz que o HC tende a incluir a prescrição da dexametasona no protocolo de tratamento para pacientes moderados e graves de Covid-19 com necessidade de oxigênio. “A Covid é uma doença bifásica: nos primeiros dias, ocorre o ciclo da replicação do vírus, e uma parte dos pacientes evolui para uma segunda fase, que é a de um componente inflamatório da doença, quando o vírus aciona a cascata inflamatória. Essa ativação da cascata inflamatória pode causar dano no tecido e na circulação pulmonar. E é exatamente nesta fase que o corticoide pode atuar”, explica. “Alguns pacientes evoluem para um quadro de pneumonia em organização e, para esse quadro, o corticoide estava sendo prescrito por sua capacidade de diminuir a inflamação e melhorar a lesão pulmonar”, acrescenta.
Para o infectologista o resultado do estudo de Oxford é a notícia positiva de maior impacto desde o início da pandemia. “Fazendo um paralelo com o remdesivir [antiviral], que é a outra medicação já autorizada, temos uma droga com resultado muito mais significativo na redução da mortalidade. O remdesivir teve uma tendência, sem significância estatística, na redução da mortalidade; seu maior impacto foi na redução de tempo para a melhora clínica. Além disso, ele é endovenoso, caro e não está amplamente disponível. Então o resultado de hoje tem um potencial muito significativo para o tratamento da doença em todo o mundo”, comenta, citando que os próximos estudos devem analisar o uso conjunto das duas drogas.
Breda cita que o HC ou a adotar o corticoide porque o perfil inflamatório da doença indicava que o medicamento poderia ter efeito positivo para conter a inflamação, “mas tínhamos receio porque, nos testes para influenza, por exemplo, os resultados foram ruins. Agora, temos um estudo muito grande e metodologicamente adequado para o contexto de pandemia, que nos dá segurança, indicando, ainda um padrão de dose bem claro, é muito significativo”, comenta.
O médico ainda cita que os efeitos colaterais do corticoide já são bastante conhecidos: retenção de líquidos, alteração no controle da glicemia, aumento na pressão arterial e aumento no risco de infecção bacteriana. “Mas, em uma dose moderada, como proposto no estudo, e tomando os devidos cuidados com pacientes diabéticos e hipertensos, por exemplo, o benefício esperado é maior que o risco”, diz, explicando, novamente, ser necessária a análise completa do estudo.
Apesar do otimismo quanto à divulgação do estudo, “é muito significativo, tanto que a Sociedade Brasileira de Infectologia já divulgou informe recomendando a prescrição”, o médico lembra que a dexametasona não é “o remédio para o coronavírus”. “É uma droga com grande potencial para reduzir a mortalidade. A população não pode ficar um pouco eufórica com a notícia de tratamento, relaxar nas medidas de proteção e correr atrás do medicamento nas farmácias. Precisamos lembrar que não é indicado para casos leves e não reduz a circulação do vírus. Se aumentar o número de pessoas se expondo, se infectando, podemos ter colapso do sistema de saúde e sequer conseguir oferecer o tratamento para quem precisa. É uma notícia boa, mas que não muda a realidade de contaminação”, conclui.
A médica intensivista do Hospital do Trabalhador, o hospital de referência de Curitiba para os casos de Covid-19, Mirella Oliveira, informou que o hospital ainda não utiliza corticoides no tratamento de seus pacientes e que discutiria ainda nesta terça-feira a possibilidade de adoção deste tratamento.
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