Com um público-alvo de pouco menos de 90 mil crianças até os 4 anos de idade, 28,6 mil doses nesta campanha foram aplicadas até o momento na capital, na ação que vai até a próxima sexta-feira (30). A campanha já havia sido prorrogada pelo MS, devido à baixa adesão. 6y5u61
Entretanto, esses números não refletem a cobertura vacinal contra a doença na cidade, tendo em vista que campanhas têm como objetivo complementar a imunização de rotina, exercendo mais o papel de repescagem e de uma certificação quanto à imunização da população.
É essa diferenciação entre a cobertura das vacinas de rotina, do calendário vacinal, e a imunização proposta em campanhas que destaca Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações. “Campanhas visam doses adicionais, indiscriminadas e muitas vezes envolvem multivacinação e atualização das imunizações, no intuito de colocá-las em dia", explica ele.
O esquema vacinal de rotina contra a poliomielite estabelece recomendação de cinco doses, sendo três doses antes do primeiro ano de vida, aos 2, 4 e 6 meses, com vacinas injetáveis — e dois reforços, ministrados aos 15 meses e aos 4 anos de idade, em formato oral, as gotinhas. A vacina injetável é chamada de Vacina Inativada Poliomielite (VIP), enquanto as gotinhas são denominadas Vacina Oral Poliomielite (VOP). “As injetáveis usam o vírus inativado, não o vírus vivo, e são indicadas para três tipos de poliovírus, o 1, 2 e o 3, sendo que o 2 já está extinto, enquanto as gotinhas são constituídas dos poliovírus atenuados dos tipos 1 e 3”, explica Kfouri.
Em consulta aos dados do DataSUS, a cobertura vacinal completa contra a poliomielite, alcançada apenas com o segundo reforço ministrado, aplicado aos 4 anos de idade, vem caindo ano a ano em Curitiba, ando de 87% em 2017 para 65% em 2021.
Entretanto, segundo a secretaria municipal de saúde de Curitiba, Beatriz Battistella, entrevistada pela Gazeta do Povo, a capital paranaense teve avanços consideráveis de julho para agosto deste ano, subindo de 79% para 89% o alcance das vacinas injetáveis. “Essa cobertura se refere à VIP para crianças até 1 ano, do esquema de rotina, e foi obtido por meio de três Dias D diferentes, em um período de 70 dias”, disse ela.
Outras ações recentes realizadas pela secretaria também contribuíram para alavancar a vacinação, como cerca de 1,9 mil ligações semanais de busca ativa para atualização da carteira de imunizações e mais de 380 mil mensagens enviadas somente em agosto com avisos para ofertas de vacinas pelo Aplicativo Saúde Já Curitiba.
A vacina está disponível em 106 unidades de saúde de segunda a sexta-feira. Os horários e endereços podem ser conferidos no site Imuniza Já.
Beatriz pondera que as campanhas refletem a preocupação do governo com a queda na vacinação vista nos últimos anos e que esses recursos são importantes porque a equipe de saúde aproveita para ver a carteira de vacina e fazer outras caso sejam necessárias, como para sarampo, rubéola e varicela.
A secretária supõe que a baixa adesão em Curitiba para a vacina da campanha atual possa se dever aos pais conferirem a carteira de vacinação do filho e verificarem que está em dia para o esquema todo da vacina da pólio, o que faz com que desista de levá-lo à unidade de saúde.
Segundo Beatriz, é uma hipótese para a baixa da cobertura vacinal como um todo que muita gente não consiga entender que há essas duas estratégias importantes na vacinação contra a pólio, que envolve tanto as imunizações injetáveis, quanto as gotas de reforço.
“Além da proteção pessoal, a gotinha ajuda a fazer o controle quando eliminada pelas fezes no esgoto, visto que ajuda a inativar os vírus no meio ambiente”, diz Beatriz, ao explicar que a transmissão do vírus da pólio se dá por contaminação oral-fecal.
O Paraná, apesar dos números insuficientes em relação à meta, se sai melhor do que a capital nos objetivos da campanha, com 60% das 620 mil crianças daquela idade imunizadas. Pelo menos 239 mil crianças nessa faixa etária teriam ainda que ser vacinadas nesse mutirão, segundo a Secretaria Estadual de Saúde do Estado do Paraná (Sesa).
De acordo com a Sesa, há queda na cobertura vacinal desde 2017 e essa queda é multifatorial. "Diversos fatores podem ser elencados como contribuintes para a hesitação vacinal como a falta de percepção de risco de reintrodução de doenças, pandemia da Covid-19, movimentos antivacinas, fake news e unidades de saúde com sala de vacina com atendimento reduzido", explica a secretaria à Gazeta do Povo.
Segundo a secretaria, entre os planos ou ações que pretende colocar em prática para avançar com essa imunização estão o chamamento da população para a vacinação e orientação aos municípios a desenvolverem ações nos finais de semanas, horário ampliado de atendimento nas salas de vacinas, intensificação da busca ativa dos faltosos e divulgação da Campanha de Multivacinação e Campanha contra a Poliomielite.
Entre as unidades da federação mais populosas, o Paraná aparece em segundo lugar, atrás apenas de Minas Gerais, que tem quase 65% do público-alvo imunizado. São Paulo e Bahia não chegam à metade da meta, enquanto o Rio de Janeiro não chega a um terço da meta.
A estratégia do Ministério da Saúde é mobilizar pais e responsáveis tanto para a imunização de crianças de menores de cinco contra este vírus — desde que já tenham recebido as três doses da VIP — quanto para atualizar a caderneta de vacinação de crianças e adolescentes menores de 15 anos. "Nós temos um grande desafio, não permitir que a poliomielite seja reintroduzida no Brasil", disse o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga.
Desde 2016, a cobertura vacinal contra a poliomielite está abaixo de 95%, o índice recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). No ano ado, menos de 70% das crianças foram vacinadas, segundo informações do DataSUS.
Alcance da vacina nas maiores cidades paranaenses
Porcentagem da meta atingida nos estados mais populosos