A título de comparação, este número representa menos de 10% dos locais de votação empregados na fraude eleitoral de 2018, em que Maduro foi declarado vencedor do pleito presidencial. E o intervalo de apenas 12 horas para o recolhimento de todas as s necessárias também é muito menor que o prazo dado em 2016, quando a oposição teria três dias para conseguir os 20% de eleitores – antes que isso ocorresse, no entanto, o CNE bloqueou o processo alegando que houvera fraude em uma etapa anterior.

Roberto Picón, membro da minoria não chavista no CNE, fez as contas no Twitter: para que as forças democráticas conseguissem coletar as s necessárias, seria preciso atender cinco eleitores por minuto ao longo das 12 horas disponíveis, em todos os centros de votação, sem nenhum atraso ou problema. “Não é factível”, afirmou, acrescentando que a população, ainda por cima, terá pouco tempo para se informar sobre os locais aonde poderão ir para dar seu apoio à convocação do referendo.

Não há dúvidas de que o ente eleitoral está deliberadamente impondo dificuldades para que as forças democráticas não consigam o número necessário de s, permitindo a Maduro cantar vitória e afirmar que o povo venezuelano o quer no poder – uma narrativa que nenhuma pessoa de bom senso considerará verdadeira, mas que tem tudo para ser repetida até mesmo fora do país. Não será surpresa para ninguém, por exemplo, se o PT, que lançou (e depois apagou) nota saudando a vitória fraudulenta do ditador Daniel Ortega na Nicarágua, em novembro, venha a público mais uma vez parabenizar Maduro e dizer que “os venezuelanos se fizeram ouvir”, repetindo todos os clichês ideologizados sobre a derrota do “imperialismo” que busca “desestabilizar o país”.

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Se, por algum milagre logístico e tecnológico, as forças democráticas conseguirem os 20% exigidos, ainda haverá muitas oportunidades para o CNE impedir um desfecho desfavorável ao ditador. A decisão sobre como deve ocorrer a coleta de s é demonstração clara de que o chavismo fará o possível e o impossível para impedir que os venezuelanos demonstrem sua rejeição ao “socialismo do século 21” que fez o país regredir ao século 19 em termos de qualidade de vida. Algumas derrotas pontuais da esquerda sempre serão toleradas – como a recentemente ocorrida no estado natal de Hugo Chávez – na tentativa de provar que o processo eleitoral na Venezuela é limpo, mas qualquer ameaça real à manutenção do chavismo no poder muito provavelmente será aniquilada no nascedouro, como no caso do referendo revogatório.

Sem legitimidade internacional, respaldado apenas por aliados igualmente autocráticos, como russos e chineses, o bolivarianismo se apoia na força das armas para sobreviver. A população miserável, doente e faminta não é páreo para a brutalidade dos militares e dos coletivos armados chavistas. Uma mudança de regime pelas vias institucionais é completamente improvável – e a atitude do CNE deixa pouca esperança de que a próxima eleição presidencial transcorra com alguma lisura. Maduro faz pouco de rodadas de negociação com mediação externa, usando-as apenas para ganhar tempo, fato ressaltado até pelo papa Francisco. O drama dos venezuelanos, oprimidos pela ditadura socialista, aprofunda-se a cada dia sem perspectiva de solução.