O que realmente incomoda o governo no comunicado do Copom é o fato de que ele desnuda a responsabilidade dos poderes Executivo e Legislativo no que chama de “conjuntura marcada por alta volatilidade nos mercados financeiros e expectativas de inflação desancoradas em relação às metas em horizontes mais longos”. Se o mercado financeiro começa a perceber que o Brasil não leva a sério sua saúde fiscal e que este problema pode se tornar mais duradouro, isso não é culpa do Banco Central, mas dos atores políticos que dia sim, dia também, falam e agem como se a responsabilidade fiscal não importasse.
A mensagem do Copom é bastante clara: Lula pode “continuar batendo” e sindicalistas podem queimar bonecos de Roberto Campos Neto na Avenida Paulista (o que em outros tempos, e com outros personagens, certamente seria chamado de “discurso de ódio”), mas isso não vai levar à queda dos juros. Selic mais baixa só virá com um arcabouço fiscal bem montado – porque, obviamente, de nada adiantará uma regra frouxa –, reformas estruturantes como a tributária e a istrativa, e menos intervencionismo na economia. E, ao afirmar isso, o Copom está longe de se portar como ator político; está apenas ressaltando o óbvio que o governo ignora por acreditar que meras promessas de anúncio de um arcabouço fiscal cujo conteúdo é desconhecido deveriam bastar para, por algum poder mágico, acalmar os investidores.
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Quando teve a faca e o queijo na mão para mudar a meta de inflação, o governo não o fez. Então, o Banco Central seguirá fazendo o que for preciso para trazer a inflação de volta para o objetivo traçado, e o faz com as ferramentas que tem à disposição. Já o governo, em vez de se juntar ao esforço e contribuir efetivamente para restaurar a saúde fiscal do país, continua apostando no palavrório e na histeria para baixar os juros na marra. Felizmente, Campos Neto não é para Lula o que Alexandre Tombini foi para Dilma Rousseff.