O professor Marco Antonio Zago foi reitor durante os anos de 2014 a 2017. Sua gestão, em termos de espaços universitários e arquitetura, foi marcada pela preocupação em evitar novas invasões. Um projeto importante do qual participei – o Anfiteatro Camargo Guarnieri – teve uma das suas entradas literalmente emparedada e foi todo cercado por gradis não previstos inicialmente. Também o edifício da Reitoria sofreu processo semelhante, com a constituição de um perímetro gradeado. Como arquiteto, acho isso triste. Torna o espaço pobre, a convivência entre os diversos usuários do Campus é reduzida, as opções de projeto se restringem, a qualidade dos espaços é diminuída. Não gosto da solução – mas entendo.

E quanto ao leitor? O que acha disso? Imagine que sua casa foi assaltada uma vez. Depois outra. E novamente no ano seguinte. Então se instala um alarme, troca-se portas e as fechaduras, coloca-se grades nas janelas... Tudo isso na tentativa de proteger a si próprio, a sua família e os seus bens.

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No caso de um público, a situação é ainda mais delicada: os edifícios e os equipamentos não são seus, mas é sua responsabilidade preservá-los. Os usuários dos espaços não são seus familiares, mas, mesmo assim, as suas decisões em relação à segurança do Campus impactam positiva ou negativamente na integridade física e psicológica das milhares de pessoas que utilizam a Universidade – que a ocupam dignamente.

A abordagem espacial da gestão atual, do reitor Carlos Gilberto Carlotti Junior, é muito mais interessante. As graves e violentas invasões ocorridas em 2010, 2011 e 2013 pareciam ser coisas do ado. Se a gestão Zago teve uma abordagem defensiva com relação aos espaços arquitetônicos, a gestão Carlotti propõe espaços de convívio externos e internos, com a ideia de que os mesmos devem ser amplamente utilizados por toda a comunidade universitária. Há espaços construídos, projetos concluídos e outros em andamento com base nesse conceito. Na gestão atual, as grades do Anfiteatro Camargo Guarnieri foram removidas, e a portaria selada deve ser reaberta.

Mas se há uma volta à prática de invasão dos movimentos estudantil e sindical da USP, fica difícil defender a construção de espaços mais abertos e inclusivos como os propostos pela gestão Carlotti. O que será que os próximos anos reservam à USP?

Paulo Bernardelli Massabki é arquiteto da USP desde 2001, atualmente na Superintendência do Espaço Físico.