Se isso tudo lhe parece bastante ridículo, fique certo de que concordo de todo coração. Eu simplesmente faço esta pergunta na esperança de que me digam onde está o limite. Se formos considerar o que nossos autoproclamados "leitores sensíveis" apontam, não posso discernir nenhuma razão básica para que Shakespeare seja poupado do tratamento que tem sido istrado a Roald Dahl e Ian Fleming. A nova versão de "Os pestes", de Dahl, remove uma referência a um "queixo duplo"; a nova edição de "James e o pêssego gigante" muda "um daqueles rostos flácidos brancos, como se tivessem sido cozidos" para "um rosto que parecia um grande repolho cozido"; e a palavra "gordo" foi expurgada de cada um de seus livros. Por que, me digam, isso está além do shakespeariano "saco de manto recheado de tripas"? 6u6t4m

O mesmo vale para a raça. Todas as referências de Dahl a "preto" e "branco" foram removidas – o manto de uma das personagens não é mais "preto", e os personagens não ficam mais "brancos de medo" – enquanto muitas das descrições arcaicas das minorias de Ian Fleming foram eliminadas. Shakespeare é de alguma forma diferente? Em "Otelo", o personagem que dá título ao livro é obcecado pela pele branca de sua esposa ("Não colocarei uma cicatriz naquela pele mais branca do que a neve") e conscientemente associa seu próprio comportamento assassino à escuridão ("Levanta-te, vingança negra, do inferno vazio!"). Devemos acreditar que estas ideias destroem o prazer dos leitores de Dahl e Fleming, mas não de Shakespeare? E, se sim, por quê?

Essa, como alguém famoso uma vez escreveu, é a questão.

VEJA TAMBÉM: