Embora seja repleta de agens fictícias, a comédia representa de forma fiel o embate interno que se sucedeu à morte de Stalin, em 1953. De um lado, estava Lavrenti Beria (Simon Russell Beale), chefe do poderoso Ministério do Interior e famoso por promover expurgos contra qualquer um visto como adversário do regime. De outro, Nikita Krushev (Steve Buscemi), primeiro-secretário do Partido Comunista em Moscou e ligeiramente menos violento, mas igualmente inescrupuloso. No meio do cabo-de-guerra, o inseguro e manipulável Georgy Malenkov (Jeffrey Tambor), sucessor de Stalin por direito. Ao redor, outros membros da elite comunista, perdidos em meio à morte repentina do líder supremo.
Por isso, apesar da liberdade criativa dos roteiristas, o filme é muito realista em um aspecto: ao mostrar de forma aberta a disputa pelo poder dentro do Partido Comunista Soviético, a obra evidencia como, para os líderes da revolução russa, a única preocupação era a conquista e a manutenção do poder (o que inclui, como ório, a necessidade de não ser assassinado pelos adversários políticos dentro do regime). O povo é apenas coadjuvante, como a plateia no teatro, e não tem qualquer valor senão o de um meio para atingir um fim.
Fazer comédia com a maldade humana sem banalizá-la é uma tarefa dificílima, que o diretor britânico Armando Ianucci cumpre de forma notável em “A Morte de Stalin”.
A conclusão do filme é a de que nenhuma virtude pode florescer em um regime que premia a paranoia e a brutalidade. E, além de reflexões morais bem-vindas, a comédia ainda tem o mérito de oferecer uma experiência catártica: é sempre bom rir de tiranos.
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