A figura mais conhecida do movimento que conseguiu se reeleger foi o deputado federal Valmir Assunção (PT-BA). Natural de Itamaraju, no extremo sul da Bahia – região em que residem diversos líderes influentes da entidade –, o parlamentar mantém-se há 17 anos em cargos políticos, como deputado estadual (2005 a 2010) e federal (2011 até hoje).
Como mostrado pela Gazeta do Povo, o gabinete de Valmir Assunção em Brasília é composto principalmente por lideranças do MST e do PT, incluindo integrantes da cúpula do partido na Bahia. Lá também constam ex-parlamentares, ex-integrantes do governo federal petista e ex-secretários da legenda; parte deles exercendo ao mesmo tempo outras funções no partido, no MST ou em outros movimentos sociais.
Já Marcon, o outro representante reeleito, cumprirá, a partir de 2023, seu terceiro mandato consecutivo na Câmara dos Deputados.
Nas Assembleias Legislativas foram eleitos “Missias do MST” no Ceará; Rosa Amorim em Pernambuco; “Marina do MST” no Rio de Janeiro; e Adão Pretto no Rio Grande do Sul.
Uma das principais apostas do movimento social que não conseguiu sucesso nas urnas foi Vera Lúcia Barbosa, uma antiga militante que já foi dirigente nacional do MST e atualmente é secretária nacional de movimentos populares do PT. “Lucinha do MST”, como é conhecida, foi apontada pela direção do movimento na Bahia como o nome oficial a ser apoiado e contou com o apoio, inclusive financeiro, de Valmir Assunção. Ela, aliás, já foi assessora no gabinete do parlamentar de 2018 a 2020.
Para sua candidatura foram destinados R$ 390 mil pelo PT. Ela ainda recebeu R$ 15,8 mil de Assunção e R$ 110 mil de Elisângela dos Santos, sócia-fundadora do Instituto Lula, que disputou vaga na Câmara e também não foi eleita.
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Entre as principais bandeiras defendidas pelos candidatos estão a defesa da agricultura familiar, da reforma agrária e de movimentos sociais; de direitos da população LGBT, indígena e quilombola; e propostas na área de educação, geração de emprego e combate à fome. Na área da educação, um dos candidatos a deputado estadual, que se denominava “Lula do Assentamento”, defendia a construção de escolas que ensinassem, além das disciplinas tradicionais, “os valores do MST”.
Já “Valdir do MST”, que tentou um cargo na Assembleia Legislativa de Goiás, propunha a defesa do socialismo, o fortalecimento dos movimentos populares e a “luta contra o agronegócio”.
Já propostas no âmbito da reforma agrária, que é a principal bandeira do movimento, encontram-se fragilizadas devido às recentes mudanças em políticas do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), autarquia do governo federal, na titulação de terras.
Desde 2016, o órgão tem aumentado significativamente o número de títulos de terra concedidos aos produtores rurais, o que na prática significa a “conclusão” do processo de reforma agrária para os agricultores que integram os assentamentos, em grande parte controlados pelo MST. Com isso, o movimento tem perdido influência nessas áreas, uma vez que a principal promessa das lideranças para os assentados era justamente lutar pela concessão das terras.
O movimento social, entretanto, é contrário ao modelo que tem sido aplicado nas concessões nos últimos anos, e prefere que as terras se mantenham sendo do Estado ao invés de serem cedidas em definitivo para os produtores rurais, para garantir a influência das lideranças do MST nos assentamentos. “Somos defensores de que o título de terras deve ser coletivo e não privado”, disse Alexandre Conceição, membro da direção nacional do movimento, à Gazeta do Povo em reportagem publicada no ano ado.
Tentativas de “emancipação” por parte dos produtores rurais que não querem mais se sujeitar a ordens e regras determinadas por essas lideranças tem resultado em uma série de conflitos violentos em assentamentos de diversas partes do país, em especial no extremo sul da Bahia.