Lula comparou mudanças na composição da Suprema Corte à ação de ditaduras e defendeu que os ministros nomeados em seu governo “tiveram postura de dignididade”. “Tentar mexer na Suprema Corte para colocar amigo, companheiro, partidário é um atraso, é um retrocesso que a República brasileira já conhece e eu sou contra”. O ex-presidente afirmou, no entanto, que em eventual nova Constitução Federal poderiam ser discutidos aspectos como existência de mandato para os ministros do Supremo. 2l2t3y
Bolsonaro, em sua resposta, disse que em 2013 Dilma Rousseff (PT), durante seu mandato, tentou criar mais quatro vagas para o STF. “Da minha parte está feito o compromisso: não terá nenhuma proposta [de mudança na composição]”, declarou. “No momento, o PT tem sete ministros indicados para o STF. Eu tenho dois. Caso eu venha a ser reeleito, eu terei mais dois. Eu ficaria com quatro e o PT, com cinco. Está feito o equilíbrio”.
Bolsonaro disse, ainda, que Lula só está disputando a eleição por “obra e graça” do ministro do STF Edson Fachin, em referência à anulação, por parte do ministro, de condenações de Lula relacionadas à Lava Jato, o que, ao ser confirmado pelo Plenário do Supremo, permitiu que o ex-presidente se tornasse novamente elegível.
A segunda pergunta tratou de economia sob dois aspectos: origem dos recursos para financiar o Auxílio Brasil e políticas de preços e privatização da Petrobras. Bolsonaro destacou efeitos externos, como a pandemia e a guerra na Ucrânia, para a alta do preço de combustíveis em todo o mundo e defendeu que o governo buscou propostas junto ao Congresso, o que resultou na proposta aprovada, que diminuiu impostos federais e o ICMS sobre os combustíveis e ocasionou redução de preços. “Temos hoje uma das gasolinas mais baratas do mundo. Trabalho de quem: Jair Bolsonaro e Congresso Nacional”, declarou.
Lula, em sua resposta, argumentou que nos últimos anos o Brasil reduziu o refinamento do petróleo, o que teria resultado em maior importação de combustíveis e, consequentemente, na alta dos preços. Sobre privatização da Petrobras, disse que é contrário. “Acho que privatizar a Petrobras é uma loucura”. Ambos os candidatos não abordaram a origem dos recursos para financiamento do programa de renda.
A pergunta seguinte se tratou de fake news – os presidenciáveis foram questionados sobre seu compromisso com a proposição de lei, caso eleitos, com penalizações a autoridades do governo, incluindo presidente da República, que viessem a transmitir informações falsas.
O candidato petista acusou Bolsonaro de ser disseminador de fake news durante a campanha eleitoral, mas evitou responder a pergunta. O atual presidente criticou palavras usadas por Lula contra ele, como “genocida” e “miliciano”, que seriam notícias falsas em relação ao presidente.
Em seguida, mencionou decisão do ministro Alexandre de Moraes deste domingo (16), que barrou uma propaganda eleitoral da campanha de Lula que tentava vincular a imagem de Bolsonaro à pedofilia. O ministro considerou que havia “fato sabidamente inverídico” na inserção da campanha petista.
Na quarta e última pergunta, os candidatos foram questionados sobre “compra” de apoio e parlamentares para aprovação de propostas de interesse do governo. O atual presidente negou envolvimento com o chamado Orçamento Secreto. “Eu não tenho nada a ver com esse orçamento secreto. Posso até entender que o Parlamento trabalha melhor na distribuição de renda do que nós, do lado de cá, o meu ministério da Economia e o presidente. Agora, por favor, falar que comprei com orçamento secreto...”.
Já Lula disse que tentaria criar o “orçamento participativo”. “Vamos pegar o orçamento e vamos mandar para o povo dar opinião para saber o que o povo quer que efetivamente seja feito para ver se a gente consegue diminuir o poder de sequestro que o Centrão fez do presidente Bolsonaro”, afirmou.
O terceiro bloco do debate foi marcado por novos embates e teve as discussões sobre corrupção como o tema mais abordado. As pautas econômicas e ambientais também receberam destaque. Antes, porém, Lula e Bolsonaro responderam a uma pergunta sobre como resolveriam o problema da defasagem educacional.
Lula disse que, se eleito, vai se reunir com governadores e prefeitos para discutir o tema. Prometeu "compartilhar" com os gestores estaduais e municipais a "responsabilidade de recuperar essas aulas para que os meninos possam aprender mais" e disse faria um "verdadeiro mutirão", com convites a professores para trabalhar inclusive aos sábados o que não foi aprendido durante a pandemia.
Em resposta sobre a defasagem educacional, Bolsonaro disse que seu governo já tem adotado esforços nessa área e citou o "GraphoGame", aplicativo do Ministério da Educação que tem o objetivo de auxiliar no aprendizado dos estudantes. Ele também disse que, no "tempo de Lula", as crianças levavam três anos para ser alfabetizada e, segundo ele, em sua gestão, levam seis meses.
Na sequência, Bolsonaro falou sobre os escândalos do Petrolão, com destaque para a corrupção na Petrobras, e disse para Lula responder uma pergunta que foi respondida no bloco anterior. Em resposta, o petista falou que seu governo foi o responsável por ter conduzido a política de extração do pré-sal e valorização da estatal.
O ex-presidente também enalteceu sua gestão ao destacar a criação do Portal da Transparência e criticou os impactos das investigações da Operação Lava Jato às empresas e aos empregos gerados por empreiteiras no país. "Esse foi o desastre do Brasil de uma empresa que poderia estar exportando derivados [de petróleo] e poderia estar ganhando muito mais dinheiro do que está. Não tenho problema de explicar petrolão ou petrolinho", rebateu.
Em seguida, Bolsonaro acusou as gestões petistas de terem investido em refinarias que não foram concluídas e citou as empresas e delatores que devolveram recursos desviados de corrupção. As falas induziram Lula a dizer que crimes podem ter ocorrido "pois as pessoas se confessaram". "Quando confessa é porque comete crime", disse. "Que houve roubo, pode ter havido. Mas o que quero dizer é que para combater não precisava fechar as empresas", acrescentou.
Após o debate sobre corrupção, os dois falaram sobre economia. Lula defendeu que, em seus governos, a atividade econômica teve boas médias de desenvolvimento e classificou o atual ritmo como "atrofiado". "E eu quando deixei a presidência crescia 7,5%", declarou.
Bolsonaro rebateu e disse que em 2015 e 2016, os últimos de Dilma Rousseff, o Produto Interno Bruto (PIB) caiu 7,5% (a queda foi de 7,2%). E disse que o tombo foi provocado não por uma pandemia e uma guerra, mas por "corrupção em abundância". "Com uma pandemia, uma guerra lá fora e crise ideológica, nós ficamos no '0 a 0'", destacou.
Os dois candidatos também falaram sobre a pauta ambiental. Lula acusou o governo Bolsonaro de ter ampliado o desmatamento e disse que, se eleito, vai cuidar da Amazônia. "Vamos tentar fazer da biodiversidade uma forma de enriquecimento das pessoas que moram lá e não desmatar e desmontar como vocês estão fazendo", disse.
O presidente disse que, em seu governo, o desmatamento foi menor que entre 2003 e 2006, e acusou Lula de querer dividir a biodiversidade da Amazônia com o mundo. "Você já está se curvando ao mundo. Em vez de falar que a Amazônia é nossa, quer dividir a biodiversidade. Só consegue manter em pé suas mentiras se botar um plano que todos já sabem", comentou.
Ao fim do bloco, Bolsonaro buscou associar Lula aos ditadores Daniel Ortega, de Nicarágua, e Nicolás Maduro, da Venezuela, e aos presidentes da Argentina, Alberto Fernández, e da Colômbia, Gustavo Petro. A Fernández, o presidente associou à crise econômica no país. A Petro, associou à descriminalização da cocaína. Sobre ditadores, o petista disse que os regimes dependem da população. "Se o Maduro erra, o povo que puna", disse.
Com Lula sem tempo de fala ao fim do terceiro bloco, Bolsonaro fez reprisou várias das críticas feitas a Lula e defesas feitas por seu governo, como o Auxílio Brasil de R$ 600, e citou que ministros do STF como Gilmar Mendes e Luís Roberto Barroso já acusaram gestões petistas de roubo.
Nas considerações finais, Bolsonaro disse que deseja um país onde seja respeitada a liberdade de expressão e usou o tempo de fala para se posicionar contra a ideologia de gênero. "Não queremos que nossos filhos, ao irem para a escola, frequentem o mesmo banheiro", disse. "É a política do lado de lá", acrescentou.
Também se disse contrário a uma política de legalização de drogas e acusou Lula de ter posicionamento contrário. "O lado de lá quer um país com drogas, não queremos liberar as drogas", disse. Ele também se posicionou contra o aborto e a favor da vida desde sua concepção, bem como a favor da propriedade privada, contra o Movimento sem Terra (MST) "invadindo terras" e pregou "respeito ao homem do campo" e ao "direito à legítima defesa".
Lula disse ter sido o responsável por sancionar a lei de liberdade religiosa e se declarou como o candidato que "defende a democracia e a liberdade". Acusou Bolsonaro de querer "ocupar a Suprema Corte" e falou em governar o país democraticamente.
O petista também citou o número de que 33 milhões de pessoas am fome. "Esse país, que é o maior produtor de alimentos, tem 33 milhões de pessoas ando fome. Pessoas na fila do osso. Quando falo do churrasco é que vamos voltar a consertar o país e vamos voltar a comer um churrasquinho e tomar cerveja", disse.