globais, eles representam apenas 5,9% do total da universidade (%top-10 = 5,9%). Isso faz com que a USP caia para de 90º para a 780º posição mundial ranking %top-10. Entre as universidades brasileiras, cai para a 8ª posição nessa classificação. A UFSC, em 710º lugar no mundo e com 164 artigos top-10 (%top-10 = 6,8%), é melhor posicionada entre as instituições do Brasil, sendo seguida pela UFSCar, 733º. A UnB, onde trabalho, ficou na 852º colocação global. 3j592z

O Leiden ranking mostra 21 universidades brasileiras**: 16 federais, USP, Unesp, Unicamp, UERJ e Univ. Estadual de Maringá. Dez dessas instituições ficaram entre as posições 700 e 800 no ranking %top-10, e outras dez entre 800 e 900 (uma ficou abaixo de 900). Foram gerados 65,3 mil artigos por essas 21 universidades em 2013-2016, mas apenas 3.693 entraram na lista top-10 (%top-10 = 5,6%). Na média, 1 de cada 18 artigos de nossas universidades está entre os 10% mais citados do mundo. Comparativamente, no caso de Harvard, 1 de cada 4,5 artigos (%top-10 = 22,1%) está na lista top-10 – uma diferença de 4 vezes entre Harvard e a média de nossas universidades.

Em relação à UFSC, críticos dirão que é impossível que uma universidade pouco conhecida do público e relativamente pequena (2,4 mil publicações em 2013-2016) possa estar na frente da USP em impacto científico. Se esse resultado é “impossível”, toda nossa análise está equivocada. Mas os dados que mostramos estão em impacto relativo, que é quando normalizamos o efeito do tamanho das instituições. Assim, os 164 artigos top-10 da UFSC representam mais para essa universidade (%top-10 = 6,8%) que os 955 da USP (%top-10 = 5,9%).

Quando avaliamos as universidades em citações por publicação (P), verificamos resultados semelhantes aos doranking %top-10. A UFSC (P=4,08) é 1ª colocada em P das 21 universidades brasileiras na lista de Leiden. Já a USP (P=3,85) foi a 4ª colocada do Brasil em P. Os resultados de Rockefeller e Harvard são: P=21,4 e P=12,9, respectivamente. A diferença do P de Harvard para a USP, de 3,4 vezes, foi semelhante à diferença dos valores de %top-10 entre as duas universidades: 3,7 vezes. Outras comparações podem ser feitas entre P e %top-10 mas os resultados serão semelhantes. Dessa forma, o indicador %top-10 é comparável com o P – que utilizo há 15 anos. Ambos mostram que o impacto internacional (impacto relativo) de nossas universidades é realmente pífio.

Claro que existem excelentes pesquisadores em nossas universidades, que inclusive tiveram estudos entre os top 1% mais citados do mundo, a alta elite da ciência. A USP, por exemplo, obteve 75 publicações de alta elite em 2013-2016 (0,5% das publicações USPianas), comparado com 164 de Princeton (3,1%) e 353 de Oxford (2,4%).

As 21 universidades brasileiras que aparecem no Leiden ranking são custeadas por dinheiro público. O custo orçamentário dessas 21 instituições, somadas, foi de 38 bilhões de reais em 2017, valor elevadíssimo que resulta em uma contribuição mínima para a “ciência das descobertas” no âmbito global. De fato, apenas 5,6% das publicações (3.693 artigos, 2/5 pertencentes às três estaduais paulistas) tiveram relevância mundial e participaram da lista top-10.

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Em resumo: gastamos muito e descobrimos pouco. Quando afirmo que “gastamos muito”, também me refiro ao tempo. Nossa pesquisa é feita muito lentamente – mesmo nos melhores laboratórios – devido a inúmeros entraves burocráticos (em especial para a importação de materiais de pesquisa) e absurdas ineficiências estruturais de nossas universidades. Por outro lado, muitos professores universitários fazem pesquisa de baixa qualidade e trabalham na ciência apenas por obrigação de oficio. Enchem seus currículos de publicações inócuas e inflacionam a produção nacional com lixo acadêmico. Para piorar, a universidade pública é “socialista”, pois um pesquisador que produz ciência ruim, que não é citada, recebe o mesmo salário que um cientista citado 500 vezes por ano – qual o estímulo para a excelência científica? Há muito para ser mudado, e radicalmente, seja no âmbito dos gestores, seja no dos pesquisadores. Isso caso desejemos sair da lanterninha mundial da ciência. Alô Bolsonaro! Alô MEC!

Observação: Agradeço ao Prof. Dr. Ricardo da Costa (UFES) pela revisão deste artigo