Para Deschamps, mesmo com todas as dificuldades logísticas que devem surgir para implantação do modelo, ele poderá ser usado também para recuperar as perdas de aprendizagem decorrentes da pandemia. “Entendo ser viável iniciar nesse modelo já pensando na recuperação dos alunos. Claro, isso também depende da forma como os professores irão trabalhar”, diz. 5z5p3r
Claudia Costin lembra que algumas redes de ensino a partir do ano que vem vão ar a adotar o ensino médio em regime integral, o que vai dar mais tempo para a eventual recuperação e nivelamento dos alunos. Além disso, explica ela, há outras iniciativas que já vem sendo planejadas, como a das redes públicas de São Paulo e Rio Grande do Sul, que apostam na realização de “cursos de férias” que funcionarão como um complemento ou reforço dos conteúdos.
Outra ideia é a adoção de um “4º ano” do ensino médio, voltado para os estudantes que estão concluindo a etapa em 2021. Seria um ano letivo adicional e opcional, voltado para os estudantes que não se sentem preparados para fazer o Enem ou prestar vestibular. “Não vai ser um esforço fácil, mas é muito importante que possamos recuperar as perdas de aprendizagem dos nossos jovens que foram, infelizmente, imensas”, afirma a especialista.
Mas, antes de recuperar a aprendizagem, será preciso trazer de volta os jovens para a escola. O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) vem coordenando um esforço nacional de busca ativa para contatar esses jovens que deixaram a escola. Além das dificuldades de o às aulas online, muitos sentiram que simplesmente não estavam aprendendo e por isso abandonaram os estudos. Outros ainda tiveram de deixar a escola de lado para tentar auxiliar na renda familiar.
“É fundamental acelerar e tornar obrigatório o retorno das aulas presenciais onde ainda não houve retomada total. Sem isso, não há mecanismos hábeis para o combate ao trabalho infantil”, diz Claudia Costin.
Um dos pontos que se evidenciou durante a pandemia foi a dificuldade de os estudantes se adaptarem ao modelo de ensino remoto, que exige um grande comprometimento, motivação e resiliência. Nesse sentido, avaliam os especialistas, trabalhar com o desenvolvimento de um “projeto de vida”, como prevê o Novo Ensino Médio, poderá ser benéfico. Como explica Deschmps, o novo modelo prevê maior protagonismo e autonomia para os estudantes, o que pode ter impacto positivo na motivação para os estudos.
Esse mesmo protagonismo, diz ele, é motivo de insegurança para os pais, que têm medo de que os filhos não estejam preparados para escolher, por exemplo, quais itinerários educativos ou disciplinas optativas cursar durante o ensino médio. Segundo ele, a ideia é que no primeiro ano da etapa sejam feitas apenas “pequenas escolhas” que sirvam como preparo para as escolhas seguintes.
“O que se pretende é trabalhar com projetos de vida. Ao longo dos três anos, a escola vai auxiliar o estudante a fazer esse projeto. A cada semestre o aluno fará pequenas escolhas, sendo orientado pela escola e desenvolvendo o autoconhecimento, e assim se preparando para realizar seu projeto de vida, fazer uma faculdade, trabalhar”, diz Deschamps.
Para ele, nesse primeiro ano do Novo Ensino Médio, será importante que todas as escolas envolvam os pais e familiares no processo. “As escolas e professores terão de explicar aos pais como será o processo, demonstrar como será na prática, apresentar as possibilidades trazidas pelo novo modelo. E a escola também terá de escutar os pais continuamente. Apenas assim será possível afastar as preocupações”, avalia.
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