
O que mais se ouve dos especialistas de diferentes setores agropecuários é que haverá alguma pressão inflacionária, mas “ainda é cedo” para se ter uma real dimensão dos prejuízos, tanto no arroz como em outras cadeias produtivas em que o Rio Grande do Sul tem grande peso na economia brasileira, como soja, milho, leite, carne suína e aves. 6p5o1e
“O Brasil é um país extremamente grande, e não necessariamente a quebra de safra no Sul vai resultar num aumento imediato de preços. Às vezes leva um tempo, às vezes essa oferta que a gente deixa de ter no Sul vem de outros lugares no país. Ainda é cedo, não deu tempo de fazer as contas para saber o tamanho desse prejuízo”, avaliza André Braz, coordenador dos Índices de Preços do FGV-Ibre.
Braz não vê efeito drástico na inflação em curto prazo. “O primeiro impacto fica em Porto Alegre, e, na sequência, em função dos prejuízos que a safra possa apresentar no Rio Grande do Sul, a gente vai ter noção do efeito nacional”, acrescenta.
Se o efeito em cascata para o restante da economia brasileira ainda aparenta estar represado, o mesmo não se pode dizer do impacto local e regional. A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) aponta que dez unidades produtoras de aves e suínos estão paralisadas no Rio Grande do Sul ou “com dificuldades extremas de operar, devido à impossibilidade de processar insumos ou de transportar colaboradores”. O estado responde por 11% da produção nacional de frango e 19,8% da produção de suínos, direcionadas para consumo nas gôndolas locais e para exportação.
A inviabilização de alguns núcleos produtivos acende um alerta no setor de aves e suínos. “Há temor de que, além dos problemas já vivenciados hoje, a população gaúcha deverá enfrentar desabastecimento de produtos até a retomada do sistema de produção – o que poderá demorar mais de 30 dias”, diz nota da ABPA.
Será preciso esperar a água baixar para saber quão rapidamente a infraestrutura do estado poderá ser recomposta, saindo da situação de colapso para um nível de estabilização mínima, que permita trazer alguma normalidade à logística de distribuição de bens, produtos e serviços. O setor leiteiro tem pouca margem para espera; em muitas localidades do Vale do Taquari, sem luz, água e ração, a alternativa dos pecuaristas tem sido descartar o leite ou sequer fazer a ordenha.
Na soja, há ainda cerca de 4 milhões de toneladas a serem colhidas no Rio Grande do Sul, e as perdas, sobre este montante, são estimadas em 15% a 25% pela consultoria Datagro. No país, 95% da safra já foi colhida, o que deve atenuar um impacto altista. Quanto ao milho, também segundo a Datagro, o prejuízo seria de 2% a 4%, sem peso para influenciar outros mercados.
No setor de carne bovina, o mercado ainda não foi afetado pelo efeito das chuvas. “As mudanças de preços que captamos não têm nada a ver com algum tipo de desabastecimento em função de problemas de logística no Rio Grande do Sul. Estamos fazendo um monitoramento, mas hoje não afetou em nada as cotações da carne e de grãos”, diz Alcides Torres, analista da Scot Consultoria. “Tem muita especulação a respeito de milho, soja e principalmente arroz. Mas, por enquanto, é cedo para falar alguma coisa”, conclui.
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