“Os dados nos levam a crer que o pior já ou. Felizmente o impacto não foi do tamanho que esperávamos”, diz Rodrigo Navarro, presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat). 39qu

Ele salienta, porém, que a indústria já vinha em um processo de recuperação após a crise iniciada em 2015, e que sofreu um novo baque com o coronavírus. “Agora temos que fazer a retomada da retomada, depois de três anos ruins”, diagnostica.

Possível "ressaca" da crise gera incerteza para o futuro g6i30

O cenário de otimismo, no entanto, convive com a preocupação com o futuro. “A nossa dúvida é se isso vai continuar. Será que quando vier a ressaca da crise – com o fim do auxílio emergencial, as empresas tendo que pagar o imposto que foi postergado – isso vai permanecer? As pessoas que tiveram redução de jornada ou suspensão de contrato vão continuar empregadas depois?”, questiona José Carlos Martins, da CBIC.

O governo federal afirma estar trabalhando em programas para apoiar a economia e os trabalhadores depois da crise. Os dois principais são o Renda Brasil, que deve reunir benefícios sociais e atender ao menos parte dos trabalhadores que receberam o auxílio emergencial, e o Pró-Brasil, que deve ser baseado em obras.

“A retomada de obras de infraestrutura é fundamental para que a economia volte ao curso esperado. O setor de construção é um dos que mais emprega e gera resultados para alavancar desenvolvimento no país por meio de obras estratégicas e de grande impacto positivo para a sociedade como um todo”, comenta Fabio Nossaes, diretor executivo de Negócios e Operações da construtora Camargo Corrêa Infra.

Ocorre que, pare retomar as obras com investimentos públicos, o governo precisaria abrir espaço nas contas da União. E não será tarefa fácil: só no primeiro semestre, segundo o próprio Ministério da Economia, o déficit primário da União foi de R$ 417,2 bilhões – o pior resultado em toda a série histórica.

Para o Pró-Brasil, a previsão é de que R$ 76 bilhões sejam destravados em investimentos. Se confirmado, o montante será 30% maior do que o valor investido em obras, máquinas e equipamentos no ano ado (R$ 57,6 bilhões). A previsão é de que o programa seja lançado em agosto – mas a Casa Civil ainda precisa apresentar soluções para encaixar os valores no Orçamento, sem estourar o teto de gastos.

Esta reportagem é parte da série "Retratos da economia", que aborda os efeitos da crise do coronavírus sobre a economia brasileira e também os planos do governo para a retomada. Leia aqui os demais textos.