Após acordo com lideranças partidárias da Câmara dos Deputados, o relator do projeto do novo arcabouço fiscal, Cláudio Cajado (PP-BA), decidiu incluir gatilhos para ajuste de despesas e sanções ao governo caso as metas de resultado primário não sejam cumpridas.
Entre essas medidas estão a proibição de novos concursos públicos, reajuste de servidores e a criação ou ampliação de auxílios e de benefícios tributários. Apesar disso, a política de aumento real do salário mínimo e os gastos com o programa Bolsa Família foram blindados desses mecanismos.
Cajado apresentou seu relatório na noite desta segunda-feira (15), após reunir-se com líderes da Câmara na residência oficial do presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL). Em seu texto, manteve o presidente da República livre de imputação de crime de responsabilidade caso não cumpra a meta fiscal, diferentemente do que ocorre hoje com a regra do teto de gastos.
Diante das críticas de que o projeto original era muito brando em relação à necessidade de observância às metas, o relator optou pelos gatilhos, conforme já havia sido adiantado anteriormente por Lira.
“Os ajustes serão necessários. Nós temos que construir votos no Plenário e há determinados partidos que não votarão se o projeto for muito frouxo, for muito flexível, se não demonstrar as amarras e os 'enforcements' necessários”, disse o presidente da Câmara à BandNews TV e à Rádio BandNewsFM na tarde de segunda.
Apesar de ter havido acordo entre as lideranças da Câmara, a votação do projeto de lei complementar, que estava prevista para esta semana, foi adiada para o dia 24. Na quarta-feira (17), deve ser discutida em plenário apenas o regime de urgência do texto.
Em linhas gerais, a proposta do governo é limitar o crescimento anual das despesas a 70% da alta da receita dos 12 meses encerrados em junho do ano anterior – os 30% restantes seriam utilizados para abatimento da dívida pública ou composição de caixa. Há ainda um piso e um teto para o crescimento real da despesa primária, de 0,6% e 2,5% ao ano, respectivamente.
O texto original ainda estabelece que caso a meta de resultado fiscal não for atingida, considerando uma banda de flutuação de 0,25 ponto porcentual, no exercício seguinte o crescimento de gastos ficará limitado a 50%. Os alvos centrais preveem resultado primário neutro no ano que vem, superávit equivalente a 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2025 e de 1% em 2026, último ano do mandato do atual governo.
No substitutivo, Cajado incluiu uma avaliação bimestral de receitas e despesas e a obrigação de o governo contingenciar gastos caso a arrecadação não avance conforme o projetado. Caso, ainda assim, a meta fiscal não seja atingida, ficam proibidos:
O atingimento da meta no exercício seguinte suspende todas as proibições. Se o governo descumprir a meta pelo segundo ano consecutivo, somam-se às vedações:
Os mesmo gatilhos também podem ser acionados caso as despesas obrigatórias ultraem 95% do total de despesas primárias, de modo a garantir o mínimo de 5% do total do Orçamento para despesas discricionárias.
Segundo o texto, o presidente ainda poderá enviar projeto de lei complementar ao Congresso para propor suspensão parcial ou gradação das vedações, desde que demonstre que o impacto e a duração das medidas adotadas serão suficientes para compensar a diferença entre o resultado primário apurado e o limite inferior do intervalo de tolerância.
Embora o descumprimento dos objetivos de resultado primário não deva ser considerado crime, a desobediência aos contingenciamentos de recursos e aos gatilhos configura infração à Lei de Responsabilidade Fiscal e, portanto, podem resultar na criminalização do presidente.
Já se o governo conseguir obter um superávit primário maior que o limite superior da meta, todo o excedente será destinado exclusivamente para investimentos.
No substitutivo, Cajado ainda alterou a lista de exceções ao novo arcabouço. Despesas com aumento de capital de empresas estatais, que o governo pretendia excepcionalizar, serão contabilizadas na regra, caso o relatório seja aprovado.
Além disso, transferências para o cumprimento do piso de enfermagem e complementações para o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) também foram incluídas na regra fiscal. “Estando dentro do teto, como está o Fundeb e está o piso da enfermagem, você tem a proteção da correção da inflação e o ganho real acima da inflação”, disse o relator, em entrevista coletiva na manhã desta terça-feira (17).
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