"O ciclo econômico projetado no cenário básico é reflexo de um governo inseguro com o seu capital político e, portanto, com reflexos para a agenda econômica. Essa relutância em emprestar capital político para a aprovação da agenda é resultado da divisão entre esquerda e direita dentro da coalizão governista", destaca a consultoria. g673i

Segundo ela, a agenda econômica que serve de ponto de partida para a definição das projeções do cenário é resultante da divisão de poderes, o que limita o sucesso da gestão fiscal e ao mesmo tempo impede voluntarismos econômicos do governo.

Um dos efeitos dessa dispersão pode ser observado no longo processo de aprovação da reforma tributária do consumo, com a criação do IVA dual e uma quantidade relevante de regimes especiais e alíquotas reduzidas – o que pode fazer com que a alíquota-base do novo imposto fique em torno de 27,5% ou até mais, uma das mais altas do mundo.

As pressões políticas em torno da agenda econômica são constantes nesse cenário, com as tensões se deslocando do Banco Central para o Ministério da Fazenda. A expectativa é de que a equipe econômica continue a não ter o respaldo necessário para o encaminhamento da estratégia fiscal.

A Tendências aponta que a preservação do capital político de Lula aparece na pouca disposição do governo de fazer contingenciamento de despesas para conter a frustração de despesas. Isso, de acordo com a consultoria, deve resultar em revisão das metas de superávit primário definidas pela equipe econômica para os próximos anos.

"A política fiscal a a ser objeto de desconfiança dos agentes, com efeitos negativos nas expectativas, o que deve resultar em um patamar mais elevado da taxa de juros ao longo do tempo e também afetado pela cena internacional", informa a consultoria. Este quadro acaba por limitar o crescimento do PIB.

VEJA TAMBÉM:

Cenário pessimista é influenciado por questões globais e fragilidade política 4p1s39

A consultoria trabalha com outros dois cenários para a economia brasileira. O pessimista, com probabilidade de 25%, decorre de um cenário bastante perverso para as economias emergentes. Esse quadro é influenciado por dois elementos relevantes:

  1. continuidade de apertos monetários nas economias avançadas; e
  2. instabilidade política em função da amplitude dos riscos geopolíticos, aumentando a era do protecionismo econômico no contexto global.

Aspectos domésticos também contribuem para esse cenário: "A fragilidade política do governo resulta em dificuldade de aprovação da agenda para aumento da arrecadação, o que alimenta de maneira mais expressiva os riscos sobre a sustentabilidade das contas públicas".

Nesse cenário, para tentar conter a perda de popularidade decorrente dos efeitos negativos do ambiente global e da maior percepção de risco doméstica, o governo reforçaria políticas para estimular o crescimento econômico por meio de estatais, crédito subsidiado pelos bancos públicos e mudanças no Banco Central. Nessa conjuntura, a economia cresceria apenas 1,5% ao ano até 2033, em média, pelas contas da Tendências.

VEJA TAMBÉM:

Cenário otimista depende de mais apoio à agenda de Haddad 23571m

Outro cenário apresentado pela Tendências é o otimista, com probabilidade de apenas 10%. Ele contempla que, no âmbito doméstico, a ampla coalizão do governo aria a dar apoio mais sistemático à agenda de recuperação de receitas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Este cenário também considera a aprovação da reforma tributária do consumo com redução dos regimes especiais e alíquotas reduzidas, aproximando-se de uma proposta ideal. Neste caso, a economia cresceria, em média, 3,1% ao ano no período citado.

Incertezas no cenário internacional são desafiadoras 3li4v

Um complicador para os países emergentes é o cenário internacional desafiador, resultado de questões econômicas e de um ambiente conflituoso na cena geopolítica.

Segundo Ribeiro, a economia global, além da desaceleração mais pronunciada em 2024, deve enfrentar um período de crescimento abaixo dos índices registrados no pré-pandemia e juros relativamente mais elevados. O Fundo Monetário Internacional (FMI) projeta um crescimento de 3,1% para a economia mundial em 2024 e de 3,2% para 2025.

Os bancos centrais das principais economias globais estão encerrando o ciclo de alta nos juros, mas as taxas devem permanecer em níveis altos no curto prazo.

Ainda que o Federal Reserve (o BC norte-americano) e o Banco Central Europeu iniciem a redução em meados deste ano, as taxas devem permanecer acima dos níveis pré-pandemia. Um dos fatores que contribuem para isso são as crescentes dificuldades fiscais nas maiores economias, especialmente nos Estados Unidos e na Europa.

O ritmo de crescimento da China, segunda maior economia do mundo, está desacelerando. Dos 5,2% projetados pelo FMI para 2023, deve cair para 4,1% em 2025. O governo chinês vem tentando suavizar a queda, mas persistem desafios estruturais ligados ao forte endividamento público e privado, excesso de capacidade em diferentes setores, demografia desfavorável e a necessidade do cumprimento de metas ambientais.

Questões geopolíticas também terão peso nos próximos anos. As tensões entre chineses e norte-americanos seguem como fonte de risco. O resultado das eleições nos Estados Unidos, em novembro, poderá redefinir o papel da política externa do país.

Além disso, há evidências crescentes na direção de maior protecionismo por parte dos países. E, se de um lado espera-se maior segurança na cadeia de suprimentos e melhora logística, de outro há potencial perda de eficiência do processo com adoção de práticas como o nearshoring (compra de insumos e matérias-primas de países próximos) e o friendshoring (compra de insumos e matérias-primas de países amigos), tendo em vista que o critério do menor custo deixa de ser o principal na definição dos locais de produção.

Também merece destaque a questão da transição energética, devido às implicações nos próximos anos. Apesar de a consultoria destacar que a migração para fontes mais limpas e sustentáveis seja uma imposição, questões relacionadas a custos e eficiência tornam esse processo mais desafiador.

"De forma geral são questões que apontam para o risco de uma era de maiores custos e, consequentemente, de inflação global mais pressionada, em especial quando comparada ao pré-pandemia", ressalta a Tendências em seu relatório.