A FGV detectou, em novembro, a maior queda de confiança empresarial desde março de 2021. “A segunda queda consecutiva de ambos os indicadores confirma a fase de desaceleração do nível de atividade no quarto trimestre e capta projeções pessimistas em relação aos próximos meses”, cita a entidade.

O índice apurado pelo Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV caiu 6,7 pontos em novembro, para 91,5 pontos, o menor nível desde fevereiro. Índices acima de 100 refletem confiança empresarial, enquanto números abaixo de 100 refletem falta de confiança.

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Serviços ainda sentem impactos da inflação

A queda de confiança é disseminada entre os diferentes segmentos de atividade econômica. Apenas 16% tiveram alta. O impacto da inflação elevada, que chegou ao pico de 12,1% ao ano em abril e depois recuou, ainda é sentido. E mesmo setores que vem se mantendo com um grau de resiliência maior, como o de serviços, perderam ânimo.

Os serviços foram beneficiados, neste ano, pela diminuição na intensidade da pandemia da Covid-19, pela vacinação e pela flexibilização no uso de máscaras. Nos dez primeiros meses do ano, o setor acumula um crescimento de 8,7% em relação ao mesmo período de 2021. Os serviços de alimentação e alojamento são o principal destaque, aponta o IBGE.

Ainda assim, o índice de confiança dos serviços caiu 5,4 pontos em novembro, atingindo 93,7 pontos e retornando ao menor nível desde março. “Apesar do termino do período eleitoral, fatores políticos foram citados como limitadores a melhorar os negócios nos próximos meses, o que eleva a incerteza do cenário no curto prazo e um ambiente macroeconômico delicado em 2023”, diz Rodolpho Tobler, economista da FGV, em nota.

Comércio tem o menor nível de confiança entre os setores

Em novembro, o comércio voltou a registrar o menor nível de confiança entre os setores e está em seus menores patamares desde abril. Na escala, onde números maiores que 100 indicam maior confiança, o indicador registrou 87,2 pontos.

Segundo Tobler, fatores políticos parecem contribuir negativamente para a falta de confiança no comércio, limitando a melhora dos negócios nos próximos meses.

“A deterioração [da confiança] chama atenção pela intensidade e disseminação da sua queda. Os empresários percebem uma forte desaceleração da atividade e projetam piora para os próximos meses, em linha com um cenário mais restritivo de elevada taxa de juro, inflação e redução de ímpeto de consumo por parte dos consumidores”, diz ele, por meio de nota.

Lucas Godeiro, da TC, aponta também que o comércio tende a ser mais afetado pelo aumento nas incertezas porque depende muito dos juros.

A demanda por crédito está em baixa, tanto entre consumidores quanto entre empresas. E nos 12 meses encerrados em outubro, o comércio varejista ampliado – que inclui vendas de material de construção e de veículos – acumula queda de 1% em relação a igual período anterior, de acordo com números do IBGE.

Na construção, confiança teve maior queda desde abril de 2020

Outro setor que vem sentido forte queda na confiança é a construção. Segundo o Ibre/FGV, o índice caiu 5,3 pontos em novembro, o maior recuo desde abril de 2020, e chegou aos 92,9 pontos, patamar mais baixo desde março.

Segundo a coordenadora de projetos da construção do Ibre/FGV, Ana Maria Castelo, depois de sete meses sentindo um otimismo moderado, a percepção para os negócios e a demanda para os próximos três meses sofreu um revés expressivo.

“Não houve nenhuma alteração substancial em relação aos fatores limitativos aos negócios – as assinalações em demanda insuficiente até tiveram queda na comparação com outubro. Assim, mostra-se evidente que o choque de expectativas pode ser associado aos resultados das eleições. As incertezas em relação à política econômica do próximo governo provocam um receio de piora no ambiente futuro dos negócios. O setor está crescendo, mas o futuro é incerto”, diz Castelo.

Industrial tem mais confiança na sua empresa que na economia

A confiança do empresário da indústria caiu em dezembro pelo terceiro mês consecutivo, aponta a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Ela é a menor desde julho de 2020. “De uma forma geral, há ainda confiança do empresário, mas ela é restrita e pouco intensa”, diz o gerente de análise econômica da entidade empresarial, Marcelo Azevedo.

Segundo ele, houve uma inversão na avaliação das condições atuais da economia brasileira. A percepção é de que o cenário piorou. Em relação às expectativas, o cenário é de um otimismo moderado, resultante da confiança do empresário no desempenho de sua empresa. “No tocante à economia brasileira, há percepção de piora das condições atuais e expectativas negativas”, afirma o economista.

A queda da confiança é generalizada na indústria. Em dezembro, ela caiu em 19 de 29 setores industriais, em três regiões do Brasil e em todos os portes de empresa. O recuo mais pronunciado é entre as empresas de grande porte. E no Sul e no Sudeste, os industriais demonstram falta de confiança.

Não é só a CNI que mostra essa perda de ímpeto na confiança da indústria. Outra instituição que aponta o mesmo é o Ibre/FGV, cujo índice caiu para 92,1 pontos, o menor desde julho de 2020.

O economista Stefano Pacini, do FGV Ibre, avalia que há deterioração de percepções sobre a situação atual decorrente de uma piora na demanda e consequente aumento do nível de estoques, o maior desde o período de lockdown.

Também há, de acordo com ele, uma piora das expectativas para os próximos meses, possivelmente relacionada a uma desaceleração global prevista e um cenário econômico brasileiro de incertezas para o início do próximo ano.

Juros e inflação afetam confiança dos consumidores

As expectativas para a demanda tiveram uma queda forte no mês ado, mesmo com contratações elevadas e queda da inflação, que nos 12 meses encerrados em novembro atingiu 5,9%, segundo o IBGE.

Além de refletir a desaceleração da economia, essas expectativas partem de um quadro de juros mais elevados, um crédito mais e maior endividamento das famílias, ressalta a FGV.

“O mercado de trabalho vem se recuperando, mas com vulnerabilidade. Quem está tendo mais chance são as pessoas com mais qualificação, o que acaba impactando negativamente as famílias de baixa renda”, diz Bittencourt.

A confiança dos consumidores também está em queda. Segundo a coordenadora de sondagens da FGV, ado o efeito das transferências do governo, os consumidores de baixa renda voltaram a se sentir menos satisfeitos em relação à situação financeira familiar e revisaram suas expectativas para baixo nos próximos meses.

“Mesmo com uma queda nas perspectivas sobre a inflação e um efeito ainda positivo no mercado de trabalho, há um aumento do pessimismo sobre as finanças familiares nos próximos meses. É possível que exista algum espaço para o consumo pelas famílias de maior poder aquisitivo, mas, dadas as condições macroeconômicas, sua sustentação nos próximos meses acaba sendo uma tarefa difícil”, ressalta.

Os juros mais altos dificultam a procura por crédito e a renegociação das dívidas. Os dados mais recentes da Serasa Experian, de outubro, mostram que a demanda por dinheiro entre os consumidores caiu 14,8% no comparativo entre outubro de 2021 e 2022. É a quinta retração seguida desde maio. O maior recuo na demanda por crédito ocorreu entre aqueles que ganham entre R$ 500 e R$ 2 mil por mês.

A inadimplência também está elevada entre as pessoas físicas. São 69,1 milhões de consumidores com pendências, o maior número da série histórica da Serasa, iniciada em março de 2016.

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