Uma das atividades que pode sentir com mais força a desaceleração no ritmo chinês é a mineração de ferro, essencial para os investimentos em infraestrutura, especialmente a imobiliária. 3o6c2n
As receitas com a exportação de minério brasileiro para a segunda maior economia global foram de US$ 11,7 bilhões entre janeiro e agosto. A queda foi de 6% em relação aos mesmos meses do ano anterior. A culpa foi da queda do preço médio, porque no mesmo período o volume físico embarcado cresceu 8,5%.
Ainda que os números atuais das vendas brasileiras de minério não deem motivo para alarme, especialistas avisam que as perspectivas não são favoráveis. Altermatt aponta que demanda por imóveis vem caindo não só ciclicamente, como também estruturalmente: “Vão ser necessários menos apartamentos à medida que a população chinesa diminua e o crescimento da população se desacelere”.
Outro impacto sobre as importações de minério de ferro vem da decisão das autoridades chinesas em reduzir a dependência do país em relação às atividades imobiliárias. Elas representam até 30% do PIB local.
Do lado da oferta, o governo da China anunciou, em 2021, restrições ao endividamento das incorporadoras. Do lado da demanda, foram reforçados entraves à compra de residências. As medidas foram uma reação a décadas de crescimento descontrolado do setor, que acumulou dezenas de milhões de imóveis vazios e tem incorporadoras às voltas com dívidas gigantescas e provavelmente impagáveis.
A flexibilização a essas restrições, no ano ado, não foi suficiente para animar o setor. Até julho, a atividade na construção civil apresentava queda de 25,7% e o volume de vendas de imóveis recuava 12,8% em comparação com o mesmo período de 2022.
Ainda que tenha tido pouco efeito, a própria flexibilização é um indicativo das dificuldades do governo chinês em lidar com essa nova fase de sua economia. Em um momento, busca conter distorções que foram responsáveis por parte do crescimento acelerado do ado; em seguida, preocupado com a freada econômica, volta a relaxar os controles.
Outro produto que pode sofrer impactos é o petróleo. Que, por enquanto, ainda está em alta. Neste ano, até agosto, as vendas de óleo brasileiro para China aumentaram 18,6% em valor (para US$ 12,1 bilhões) e 56,1% em volume.
Livio Ribeiro, pesquisador associado do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) e sócio da BRCG Consultoria, diz que o petróleo brasileiro pode perder espaço no mercado chinês por questões estratégicas.
A Rússia, que é um dos maiores produtores mundiais, está escoando seus estoques para a Ásia, por causa do bloqueio ocidental gerado pela guerra na Ucrânia. “É uma espécie de efeito deslocamento", diz o pesquisador.
Ribeiro avalia que a demanda por grãos e proteína animal deve continuar elevada. Em meio a uma supersafra brasileira de soja – quase 155 milhões de toneladas, 23% a mais que em 2022, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) –, as compras chinesas continuam crescendo.
Em oito meses de 2023, as vendas da oleaginosa para a segunda maior economia global cresceram 26,8% e as receitas, 12,7%, para US$ 29,7 bilhões – o descomo se deve à queda do preço da commodity.
As exportações de carne também sofrem o efeito da queda dos preços das commodities no cenário internacional. A demanda chinesa pela proteína brasileira cresceu 5,3% em tonelagem, mas gerou uma receita 19,6% menor, de US$ 5,5 bilhões.
Entre as economias da América Latina, a brasileira é a segunda mais sensível ao crescimento chinês, aponta o Julius Baer. De janeiro a agosto deste ano, 30% de nossas exportações tiveram a China como destino. Apenas o Chile é mais dependente: cerca de 40% de suas receitas com exportação vêm do gigante asiático.
Apesar disso, Dinic, do Julius Baer, destaca que a expansão da atividade no Brasil deve encontrar algum sustento na inflação um pouco mais moderada e no ciclo de redução da taxa de juros. “Os estímulos para a infraestrutura e a transição ecológica no Brasil podem favorecer seu crescimento no médio e longo prazo”, acredita o analista.
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) elevou suas projeções para a expansão do PIB brasileiro em 2023 e 2024. Elas aram, respectivamente, de 1,7% para 3,2% e de 1,2% para 1,7%.