“O consumo diário de arroz pelo brasileiro é de 33 mil toneladas. Se fosse viver do arroz orgânico do MST, teríamos alimento só para meio dia de consumo da população, ou nem isso, apenas 10 horas. E nem sei se é garantido que se colha tudo isso, porque o arroz é uma cultura exigente no controle de pragas e doenças”, diz Vlamir Brandalizze, engenheiro-agrônomo e consultor especializado na commodity.
“É um nicho muito específico, que atende uma fatia muito pequena da população. E para conseguirem viabilizar isso, eles têm que vender muito caro”, observa o analista. Uma busca na internet mostra que o arroz orgânico de uma marca conhecida (Tio João) pode ser encontrado a R$ 15,89/kg, contra R$ 5,19/kg do mesmo tipo de produto convencional, de outra marca também conhecida (Tio Urbano).
O analista da Brandalizze Consultoria aponta que, para ser viável economicamente, o arroz precisa render de 8 a 10 toneladas por hectare “em qualquer lugar do mundo, seja na China, na Tailândia, na Indonésia ou no Brasil”. “O pessoal do orgânico colhe de 3 a 4 toneladas, eles não conseguem produtividade. Daí, não tem como ser barato. Podem não gastar com fertilizante e defensivos, mas também não colhem”, afirma.
O Brasil é autossuficiente na cultura do arroz, com produção e consumo anual estimados em torno de 11 milhões de toneladas. A exportação chega a 1,5 milhão de toneladas, equilibrando-se com importações da Argentina e do Paraguai.
O último levantamento do Programa de Análises de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (2017-18), da Agência de Vigilância Sanitária, apontou que "a exposição crônica aos resíduos de agrotóxicos pesquisados de 2013 a 2018 não representa risco crônico à saúde dos consumidores no Brasil". O relatório lembra que "os equipamentos utilizados nas análises são de alta sensibilidade, com potencial para detectar resíduos na faixa de partes por bilhão (ppb) ou inferior. As concentrações detectadas nessa faixa de concentração, geralmente, são significativamente menores que o Limite Máximo de Resíduo (LMR), quando estabelecido".
O médico Ângelo Trapé, diretor do Ambulatório de Toxicologia do Hospital das Clínicas da Unicamp até 2017, diz que em 40 anos de estudos na área, viajando o país inteiro, nunca teve "nenhum caso em laboratório ou do centro de controle de intoxicações da Unicamp de algum indivíduo que tenha se intoxicado pela alimentação" devido a resíduos de defensivos químicos. "Tive casos de internação intencional, tentativa de suicídio e homicídio, mas isso é outra história", destacou.
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